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cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR

N.º 8

JUNHO 2017

116

conjunto de critérios ambientais. A maior crítica a

esta opção é o facto de descurar a heterogeneidade

regional/local (variabilidade espacial) e também a

variabilidade temporal, pois os custos e benefícios

da conservação da biodiversidade podem variar ao

longo do tempo. Daí que a sua eficiência económica

seja reduzida.

Podem, portanto, ser necessários pagamentos e

práticas espacialmente diferenciados, embora se

deva ter em atenção o aumento dos custos admi-

nistrativos e as questões de equidade.

Relativamente aos pagamentos para heterogenei-

dade e conectividade/continuidade dos habitats é

de referir que, tendo em conta que os pagamentos

anteriores não cobrem todas as espécies de uma

determinada área, descuram o facto de as práticas

de conservação variarem no espaço e no tempo, de

algumas espécies requererem medidas heterogé-

neas porque usam diferentes recursos e de haver

falta de conhecimento dos impactos da conser-

vação nas espécies. Assim sendo, é proposto um

portfolio

de medidas” que tem em conta a hete-

rogeneidade dos habitats. Contudo, alguns estudos

demonstraram que existem dificuldades em incenti-

var um grupo de agricultores a adotar um “

portfolio

de medidas”. Uma forma de contornar o problema

foi a proposta de um “bónus de aglomeração”, ou

seja, incentivos aos agricultores para criarem deter-

minadas configurações de faixas de habitats com

vista a permitir a conectividade entre estes.

Existe um crescente interesse nos pagamentos

baseados nos resultados, face ao baixo desempe-

nho dos pagamentos baseados na prática/ação.

Neste caso os pagamentos encontram-se direta-

mente ligados a um resultado (quantitativo ou qua-

litativo)

9

. Um pagamento deste tipo pode variar con-

soante o resultado obtido. Além disso o agricultor é

livre de escolher as práticas com vista à obtenção

dos resultados desejados, ou seja, o agricultor tem

maior flexibilidade, assim como o pagamento pode

conduzir a uma maior inovação. Resumindo, as van-

9

Por exemplo, o número de ninhos de determinada espé-

cie.

tagens consistem na maior flexibilidade de escolha

das práticas; maior inovação, motivação e envolvi-

mento; maior cooperação entre agricultores. E as

desvantagens serão o maior risco financeiro

10

e os

custos de transação associados à complexidade da

monitorização. Os indicadores utilizados devem ser

claros, consistentes com os objetivos e não devem

entrar em conflito com objetivos agrícolas e devem

refletir os esforços dos agricultores. Serão possivel-

mente necessários indicadores múltiplos que refli-

tam a diversidade de habitats e espécies.

Já os leilões ecológicos consistem numa compe-

tição entre agricultores por contratos limitados de

conservação da biodiversidade. No caso dos leilões

ecológicos, cada agricultor interessado em ter um

contrato para a conservação da biodiversidade ela-

bora uma proposta, que resulta do balanço feito

pelo agricultor entre “o que deseja receber” e “a pro-

babilidade de ser aceite”. Considerando que o inte-

resse do Estado consiste em conseguir conservar a

biodiversidade ao preço mais baixo, e o interesse de

cada agricultor em ser bem remunerado pela con-

servação da biodiversidade, a proposta não deverá

ser demasiado ambiciosa, pois corre o risco de não

ser aprovada mas, uma vez que o agricultor deseja

uma remuneração que pague mais do que os cus-

tos, pode preferir correr algum risco ao valorizar a

sua proposta. O agricultor terá de medir o custo-be-

nefício de ver ou não aprovada a proposta, sendo

que as propostas com melhor relação custo/benefí-

cio serão aprovadas.

Em geral, consideram-se dois formatos de leilões:

o pagamento discriminatório, em que o agricultor

recebe de acordo com o que propôs. O agricultor

10

Ligado a fatores exógenos à atividade agrícola como:

clima, comportamento de vizinhança, migrações, repro-

dução e alimentação das espécies, etc., sendo que para

mitigar estes riscos foram propostos, entre outros: com-

binação de pagamentos base com pagamentos bónus de

acordo com os resultados; pagamentos dependentes das

ações do agricultor e do estado do tempo; utilização de

indicadores de desempenho múltiplos que permitam dis-

tribuir o risco, considerando que certas espécies podem

estar ausentes um ano.