Cultivar_3_Alimentação sustentável e saudávell

cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 3 março 2016 24 Em 1798, o pensador inglês Thomas Malthus defendeu no seu famoso Ensaio sobre o Princí- pio da População que já não havia terra suficiente no mundo para alimentar uma população mun- dial em rápido crescimento, com a subsequente ameaça de pobreza e fome. Felizmente, o século XIX assistiu à revolução agroindustrial, que trans- formou por completo as economias da Europa e da América do Norte, e os receios de Malthus reve- laram-se infundados. Será que, cerca de 220 anos depois, regressámos ao mesmo ponto? Estamos, efetivamente, perante uma deterioração ambiental crescente que, por sua vez, gera uma oferta alimen- tar cada vez mais vulnerável. É necessário garan- tir uma maior produtividade dos recursos e deve- mos utilizar todos os meios ao nosso alcance para o conseguir. À semelhança de muitas outras pessoas, eu acre- dito que, nos próximos 20 anos, teremos de colo- car os recursos no centro das nossas políticas e estratégias de negócio. Todos nós, consumidores ou empresas, teremos de aprender a viver com as restrições futuras impostas pela escassez de recur- sos e teremos também de nos preparar para isso. Combater as batalhas certas passa também por apoiar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), adotados em setem- bro de 2015 pela Organi- zação das Nações Unidas (ONU). Os ODS fazem parte da nova agenda de desen- volvimento sustentável da ONU, exortando os gover- nos, o setor privado, a socie- dade civil e cada um de nós a desempenhar o seu papel no futuro do planeta. Os 17 ODS abordam todos os aspetos da sustentabili- dade e alguns objetivos específicos têm relevância direta para o setor da alimentação e bebidas (entre os quais, o Objetivo 12: Consumo Sustentável). O Combate ao Desperdício Alimentar Um primeiro passo evidente no sentido de um con- sumo sustentável é o combate aos nossos hábitos atuais em matéria de desperdício alimentar. É um facto sobejamente conhecido que, a nível glo- bal, todos os anos cerca de um terço dos alimentos para consumo humano se perdem ou são desperdi- çados, o que implica também que todos os recursos despendidos na sua produção, como água ou com- bustível (ambos recursos escassos), são igualmente desaproveitados. Sem contar com as emissões de gases com efeito de estufa associadas à produção destes alimentos desperdiçados. Trata-se, assim, de uma oportunidade falhada de alimentar uma população mundial crescente, e de um considerá- vel impacto económico negativo em toda a cadeia alimentar. Há uma hierarquia no desperdício ali- mentar Quando não é possível redirecionar o desperdício alimentar para a alimentação humana (sob outras formas, por exemplo), devemos ponderar se será adequado direcioná-lo para a alimentação animal. Poderá também ser considerada a possibilidade da sua utilização como maté- ria-prima noutras indústrias (detergentes, plásticos, cos- méticos, tintas, etc.) ou na valorização de resíduos (através da transforma- ção em fertilizante, adubo ou energia renovável). Em último recurso, poderá ser incinerado ou enviado para o aterro. O desperdício alimentar ocorre a todos os níveis da cadeia alimentar e todos somos responsáveis por ele, pelo que todos deve- mos contribuir para a sua erradicação. Quando pre- Existem muitas iniciativas de promoção do combate ao desperdício alimentar a todos os níveis da cadeia alimentar e as políticas públicas devem apoiar tais ações […] A iniciativa “Every Crumb Counts” (“Todas as Migalhas Contam”) da FoodDrinkEurope conta-se entre estas ações, reunindo 18 organizações europeias que se comprometem com diversas medidas concretas.

RkJQdWJsaXNoZXIy NDU0OTkw