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Editorial

EDUARDO DINIZ

Diretor-Geral do GPP

O trabalho na agricultura diferencia-se historica-

mente do de outros setores pela importância que

tem o trabalho a tempo parcial e eventual e o plurir-

rendimento, importância essa explicada sobretudo

pelo caráter sazonal e irregular de muitas ativida-

des agrícolas e pela pequena dimensão da grande

maioria das explorações. Associado a esta caracte-

rística setorial, as regras e procedimentos necessá-

rios para a interrupção temporária do pagamento

a beneficiários de prestações sociais ou do subsí-

dio de desemprego dificultam a prestação de tra-

balho eventual.

Acresce que as margens reduzidas de muitas das

produções agrícolas e a crescente introdução de

tecnologia e automação têm contribuído para a

diminuição do trabalho agrícola e ainda para a

renovação das formas de trabalho, que têm conhe-

cido evoluções recentes em muitas áreas, nomea-

damente no que diz respeito ao desenvolvimento

de empresas de prestação de serviços.

As séries estatísticas indicam que em termos agre-

gados se está a verificar uma redução significativa

da mão-de-obra familiar (que acompanha a redu-

ção da população ativa na agricultura) e a manu-

tenção (ou mesmo ligeira recuperação) da mão-de-

-obra assalariada (com ganhos de remuneração) e

contratada através de prestação de serviços.

Com efeito, o setor agrícola e as zonas rurais, pelas

características indicadas e pelas crescentes neces-

sidades de serviços em áreas como a fiscalidade,

os apoios e as obrigações no quadro da PAC, o

ambiente e a segurança alimentar, e a especiali-

zação tecnológica, podem beneficiar dessa evolu-

ção com a contratação ou integração de ativos mais

especializados, o que, contudo, acarreta também

riscos, nomeadamente, em termos de condições

de trabalho, fiscalidade e movimentos demográfi-

cos, particularmente na mão-de-obra com menor

qualificação.

Assim a crescente externalização da mão-de-obra

agrícola é uma questão que merece uma análise

atenta porque, se por um lado acompanha uma

necessidade de flexibilização da atividade para res-

ponder ao mercado, quer em termos dos bens pro-

duzidos, quer na gestão dos custos, por outro lado,

pode propiciar precariedade da situação laboral

destes ativos e a perda de autonomia, a prazo, das

explorações agrícolas.

Na Secção “Grandes Tendências”, os autores con-

vidados para este número abordam estes tópicos

sob perspetivas diferentes, mas sobretudo comple-

mentares.

No primeiro artigo sobre esta temática, José Maria

Castro Caldas recorda que a alteração de para-