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Trabalho e Políticas de Emprego

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Resumo

O Observatório sobre Crises e Alternativas foi criado

em 2012 com o objetivo de aprofundar o conheci-

mento sobre as causas da crise e as consequências

do ajustamento estrutural. No quadro da sua ativi-

dade produziu três relatórios: (1) A economia polí-

tica do retrocesso: crise, causas e objetivos (2014);

(2) A financeirização do capitalismo em Portugal

(2016) e (3) Trabalho e políticas de emprego – um

retrocesso evitável (2017).

Este 3º relatório do Observatório do CES tem por

objeto o trabalho e emprego, o impacto da crise em

termos de desemprego e precariedade, as políticas

públicas adotadas ao abrigo do memorando com a

Troica, o seu significado e as suas consequências.

Refere que o resgate financeiro da Troica (2011)

implicou um “

ajustamento estrutural

” baseado na

austeridade orçamental (orientado para a redução

do deficit e a garantia do serviço da dívida pública)

e na “

desvalorização interna

” (orientado para a

competitividade, o reequilíbrio das contas externas,

a redução dos custos salariais e dos preços relati-

vos). Acrescenta que a reconfiguração das políticas

públicas de emprego – das instituições e práticas

que enquadram as relações de trabalho analisadas

neste relatório – decorre precisamente da “

desva-

lorização interna

” e da sua assunção como instru-

mento de correção do desequilíbrio da balança cor-

rente, supostamente sem alternativa no quadro do

euro.

Considera que, de todas as “

reformas

” realizadas ao

abrigo do memorando, são as que afetam o traba-

lho e emprego aquelas que têm efeitos mais pesa-

dos e duradouros na forma como se entende o tra-

balho no presente e se antecipa no futuro.

Refere a emergência no espaço mediático, relati-

vamente ao tema do trabalho e do emprego, de

uma perspetiva que antecipa as consequências de

uma revolução com raízes tecnológicas que traria

um futuro sem trabalho através de robots, da inte-

ligência artificial e das plataformas digitais. Neste

debate, a tecnologia é assumida como uma variá-

vel exógena, alheia às escolhas políticas, que deter-

minam o rumo futuro das sociedades.

São rebatidas três visões diferentes, que partilham

um enorme ceticismo face ao futuro: (1) fim do tra-

balho resultante de uma nova onda de inovação

tecnológica; (2) fim do emprego assalariado resul-

tante da promoção da economia colaborativa e (3)

destruição do emprego pela ausência de inovação

tecnológica e de ganhos de produtividade.

O relatório assume que o impacto da inovação tec-

nológica no trabalho e emprego é, à partida, inde-

terminado. Esse impacto pode ser destruidor ou

emancipador, dependendo das políticas públicas

que venham a ser adotadas e da direção que impri-

mam à mudança institucional.

O primeiro capítulo refere as transformações das

políticas públicas, que se deslocaram de uma

abordagem pelo lado da procura agregada e pleno

emprego para o lado da oferta orientada para a fle-

xibilização do trabalho. Esta política acentuou-se a

partir da crise do euro em 2011, com a atribuição

da causa da crise à divergência dos custos salariais

na zona euro. Hoje é assumida pela UE e pelo BCE

como condição de sobrevivência do euro.

No segundo capítulo, mostra-se como, no contexto

da crise, Portugal foi um dos países onde o mer-

cado de trabalho mais se degradou, com aumento

do desemprego, precarização das relações labo-

rais e mudança de perfil dos desempregados, mais

jovens e mais escolarizados e com o agravamento

do fenómeno do desemprego de longa duração.

Refere ainda a redução do número de desempre-

gados a beneficiar de prestações sociais, do nível

de emprego da população ativa e do número de

trabalhadores a tempo inteiro.