Cultivar_5_Economia da agua

CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 5 SETEMBRO 2016 18 os anos 30 do século XX, em que o Estado, através da Junta Autónoma das Obras de Hidráulica Agrí- cola, iniciou no País a construção de regadios cole- tivos com investimento público. O primeiro Plano de Rega do Alentejo ficou pronto em 1957, preven- do-se então ir buscar a água para rega ao rio Tejo. A barragem de Alqueva e o rio Guadiana como origem da água para regar o Alen- tejo são opções posteriores, sobretudo depois de 1968, ano da primeira conven- ção luso-espanhola sobre a gestão dos recursos hídri- cos comuns aos dois países ibéricos. A sua construção haveria de ser discutida e protelada durante dezenas de anos, mas em 2002 a bar- ragem principal estava cons- truída e iniciada a da rede hidráulica complexa que haveria de em 25 anos (aca- bariam por ser reduzidos a 15, apressando a execução do plano) levar a água e tornar regáveis 120 000 ha. O empreendimento tornou-se então a força condu- tora do desenvolvimento agrícola do Alentejo, dimi- nuindo a vulnerabilidade do sequeiro tradicional, com a sua dependência de condições climáticas tão aleatórias, tão representativas da volúvel transi- ção mediterrânica entre a aridez do Norte de África e as estáveis condições húmidas da Europa Cen- tral e do Norte. Entretanto, a intensificação agrícola pela rega é uma autêntica faca de dois gumes, que tanto pode cortar uma fatia de desenvolvimento, se tudo cor- rer bem, como de insustentabilidade ambiental e socioeconómica, se nem tudo se fizer tão bem como a natureza exige: uso moderado e conserva- tivo dos fatores de produção que são recursos natu- rais vulneráveis – o solo, a água e a energia. 1. Opções produtivas e nível de produti- vidade Na previsão de cenários agrícolas futuros para a agricultura de Alqueva, pode assumir-se que se manterão os atuais tipos de culturas dominantes, as possíveis alterações não podendo ser tão acentuadas que constituam cenários de análise substancialmente imprevisíveis, embora certa- mente se venham a obser- var alterações nas áreas de distribuição das espécies dentro de alguns grupos de culturas. De facto, o perfil dos solos disponíveis, com as suas espessuras, fertili- dade e capacidade de água utilizável, constitui sistema- ticamente fator limitante da cultura, não suscetível de alterações substanciais em prazo previsível. Note-se que a expansão da área regável se fará sempre por redução correspondente da área de culturas de sequeiro, considerando-se que a super- fície agrícola útil já não é suscetível de alteração. A expansão está, naturalmente, limitada não só à dis- ponibilidade de solos para a conversão de sequeiro em regadio, também e principalmente à disponibili- dade de água para rega. É um condicionalismo que se tentará quantificar no presente artigo. De uma forma genérica, pode dizer-se que a produtividade do regadio dependerá não só das condições cli- máticas (mediterrânicas) em que se trabalha, mas também do potencial genético das culturas que se praticarem, das condições edáficas que se lhes associarem e das tecnologias culturais que se pra- ticarem, em especial das dotações úteis de rega. A produtividade dos sistemas agrícolas tem sido, quer em sequeiro quer em regadio, estimada por recurso a modelos de simulação dos sistemas cul- O empreendimento tornou-se então a força condutora do desenvolvimento agrícola do Alentejo, diminuindo a vulnerabilidade do sequeiro tradicional, com a sua dependência de condições climáticas tão aleatórias … a intensificação agrícola pela rega é uma autêntica faca de dois gumes, que tanto pode cortar uma fatia de desenvolvimento, se tudo correr bem, como de insustentabilidade ambiental e socioeconómica, se nem tudo se fizer tão bem como a natureza exige: uso moderado e conservativo dos fatores de produção que são recursos naturais vulneráveis – o solo, a água e a energia.

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