Cultivar_3_Alimentação sustentável e saudávell

cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 3 março 2016 96 Este documento é atravessado por um conjunto de questões, designadamente “a íntima relação entre os pobres e a fragilidade do planeta, a convicção de que no mundo tudo está ligado, a crítica ao novo paradigma e às formas de poder que derivam da tecnologia, o convite para procurar outras manei- ras de entender a economia e o progresso, o real valor de cada pessoa, o significado humano da eco- logia, a necessidade de debates francos e honestos, a grande responsabilidade da política internacional e local, a cultura do desperdício e a proposta de um novo estilo de vida". Estrutura-se em seis capítulos: • Capítulo I – O que está a acontecer à nossa casa; • Capítulo II – O evangelho da criação; • Capítulo III – A raiz humana da crise ecológica; • Capítulo IV – Uma ecologia integral; • Capítulo V – Algumas linhas de orientação e de ação; • Capítulo VI – Educação e espiritualidade ecoló- gica. Principais constatações / destaques / con- clusões: A encíclica caracteriza aspetos da atual crise ecoló- gica do planeta, penetrando na linguagem e conhe- cimento disponíveis como forma de “dar uma base concreta ao percurso ético e espiritual a indicar”. Refere o agravamento dos problemas relaciona- dos com a poluição, resíduos e cultura do desper- dício (de pessoas e de bens), as alterações climáti- cas, as questões da escassez e falta de qualidade da água e as da perda de biodiversidade, aler- tando para a necessidade de, a partir da identifica- ção das variáveis com impacto na modificação do meio ambiente, reforçar a investigação sobre o fun- cionamento dos ecossistemas. Acrescenta que em épocas de crise profunda, que exigem lideranças fortes e decisões corajosas somos tentados a ter comportamentos evasivos, mantendo os nossos estilos de vida, de produção e de con- sumo, no qual uma minoria se julga com o direito de consumir numa proporção que seria impossível de generalizar, porque para além do problema da pressão sobre os recursos naturais, aquele que seria gerado pela incapacidade de absorção do aumento significativo dos resíduos. Refere que o ambiente humano e o ambiente natural se degradam em conjunto, recaindo os seus efeitos sobretudo nas populações mais desfavorecidas, tor- nando-se a abordagem ecológica sempre uma abor- dagem social. Ilustra com o impacto das alterações climáticas na destruição dos serviços de ecossiste- mas (agricultura, pesca e floresta), dos quais depen- dem as populações dos países em vias de desen- volvimento, que conduzem a disputas pelo controlo dos recursos e a migrações maciças das populações para os países mais desenvolvidos. Considera ainda que as teorias que suportam as políticas de redução de natalidade pretendem responsabilizar o incre- mento demográfico, e não o consumo exacerbado de alguns, pelo modelo distributivo atual, não con- tribuindo para “resolver os problemas dos países pobres e pensar num mundo diferente”. Defende que a desigualdade obriga a pensar numa ética das relações internacionais por haver uma verdadeira “dívida ecológica”, particularmente entre o Norte e o Sul, relacionada com desequilí- brios comerciais, de evidentes consequências eco- lógicas, e com o uso desproporcionado de recursos naturais por parte de alguns países. Á semelhança dos mecanismos internacionais aplicáveis aos paí- ses pobres para o controlo da “dívida externa” deve a “dívida ecológica” passar a ser um instrumento de controlo para a diminuição das desigualdades. Deve-se, assim, manter com clareza a consciência de que há responsabilidades diversificadas nas alte- rações climáticas e concentrar o debate nas neces- sidades dos mais vulneráveis em termos sociais. Refere ainda as debilidades das governanças inter- nacionais, que não têm permitido ir mais longe no

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