Cultivar_10_Trabalho na agricultura e as novas tendências laborais
cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 10 DEZEMBRO 2017 76 A falta de organização no setor da pequena agri- cultura coloca igualmente desafios relacionados com a produtividade e os rendimentos. E os agri- cultores podem conseguir muito, organizando- -se em associações de produtores, cooperativas e outras organizações da economia social e solidá- ria. Agricultores bem organizados conquistam uma melhor posição no acesso a mercados de alto valor acrescentado (como os nichos de mercado bioló- gicos) e na ligação a empresas num nível superior da cadeia de abastecimento alimentar, podendo até, em alguns casos, encurtá-la. As cooperativas podem ser fundamentais para melhorar as compe- tências técnicas e empresariais dos seus membros e podem ajudar os agricultores a ter acesso a tec- nologia e mercados, a adotar normas e classifica- ções que lhes permitam captar uma maior percen- tagem do valor acrescentado dos seus produtos, cumprindo requisitos em matéria de segurança ali- mentar ou de comércio justo. Podem atuar como intermediários ou abonadores de empréstimos dos seus membros, ou promover acordos de cré- dito e empréstimos entre esses membros. Podem ainda aumentar o poder negocial dos pequenos produtores, garantindo que eles obtêm uma pro- porção justa do valor gerado e conseguem assim maior rendimento. Através do trabalho conjunto, os membros das cooperativas podem garantir melho- res preços para os fatores de produção, comprando quantidades maiores. As cooperativas e as organi- zações de produtores podem ajudar a gerar rendi- mento e emprego para os seus membros e abrir uma via para outras empresas e prestadores de ser- viços chegarem ao setor da pequena agricultura, de outra forma inacessível. O setor agrícola: uma fonte inexplorada de emprego Um número crescente de países tem vindo a reco- nhecer a necessidade de desenvolver o potencial, muitas vezes menosprezado, da agricultura e das economias rurais na criação de emprego digno e produtivo e na contribuição para o desenvolvi- mento sustentável e o crescimento. Nos últimos anos, têm-se assistido a um ressurgimento do inte- resse na agricultura e no desenvolvimento rural e à promoção de meios de subsistência sustentáveis nas zonas rurais como elemento fundamental na eliminação da pobreza. Tendo em conta o aumento da procura mundial de alimentos, o setor agrícola oferece oportunida- des de emprego inexploradas, sobretudo para os jovens. No entanto, para atrair uma nova geração de agricultores, o setor precisa de se modernizar mais, de aumentar a produtividade e o rendimento e de melhorar a perceção que tem como fonte de empregos dignos. Será essencial melhorar a quali- dade do emprego agrícola – que está normalmente entre o trabalho menos protegido, mais mal remu- nerado, mais perigoso e de estatuto mais baixo. São também necessárias soluções eficazes para os desafios que vão surgindo, como a alteração nas relações de trabalho decorrente da externalização, nomeadamente nas grandes explorações. O traba- lho digno promove o crescimento e a produtividade agrícolas, que, por sua vez, podem aumentar o ren- dimento rural, promover ummaior consumo e gerar efeitos multiplicadores significativos em toda a eco- nomia. Há muitos atores nacionais e internacionais envol- vidos na agricultura e no desenvolvimento rural. As intervenções da OIT nesta área baseiam-se em van- tagens comparativas: uma abordagem normativa ao desenvolvimento, uma capacidade única de reu- nir os principais atores e um mandato e experiên- cia no mundo do trabalho. A Decent Work Agenda (Agenda para um Trabalho Digno) da OIT 8 oferece muitos instrumentos, abordagens e ferramentas para apoiar governos, empregadores e trabalha- dores nos seus esforços de promoção de meios de subsistência sustentáveis nas zonas rurais. Aprovei- tar o potencial da economia rural através do traba- 8 http://www.ilo.org/global/topics/decent-work/lang--en/ index.htm
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