Cultivar_10_Trabalho na agricultura e as novas tendências laborais

cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 10 DEZEMBRO 2017 8 digma tecnológico que se está a viver não é a pri- meira vez que acontece, recorrendo à história do pensamento económico (mais útil do que os soun- dbites ) e aos futuros que no séc. XIX se concebiam, para mostrar que não se pode “ prever o imprevisí- vel ”: “ É à Inglaterra dos séculos XVIII e XIX que deve- mos viajar se queremos reconstruir desde a origem o debate sobre as consequências da tecnologia no trabalho e no emprego ”. Já Keynes falava da “ nova doença ” que era o “ desemprego tecnológico ”. O autor considera que “ um conjunto de dispositivos institucionais como a legislação do trabalho, os sin- dicatos e a contratação coletiva, cuja origem radica em desenvolvimentos situados numa esfera política que não obedece estritamente a determinantes de natureza económica ”, foi um fator decisivo para evi- tar que certas previsões mais pessimistas se tornas- sem realidade, concluindo que a “ tecnologia em si mesma não é determinante de nenhuma senda de sentido único, dependendo os seus impactos do con- texto institucional ”, o qual, por sua vez, “ depende de escolhas políticas ”. Fernando Oliveira Baptista e Joaquim Rolo refe- rem a pluriatividade e o plurirrendimento existen- tes na atividade agrícola e relacionam-nos com a evolução da agricultura nacional desde o início do século XX. Já nos anos 50, as migrações abrangiam um grande número de pessoas com condições de vida e de trabalho muito penosas, existindo eleva- das necessidades de mão-de-obra, concentradas em curtos períodos. A partir do grande êxodo agrí- cola e rural dos anos 60, produziram-se mudan- ças que perduram ainda hoje: “ o trabalho regular, com horários rigorosos e, com frequência, distante da habitação, alterou rotinas, obrigou a ajustar os tempos dedicados ao trabalho na terra e a adap- tar os sistemas de produção ”. Atualmente, verifica- -se uma “ possibilidade crescente de recorrer a servi- ços exteriores para os trabalhos agrícolas ” embora seja “ uma adaptação ainda de pouco vulto, que não se descortina na informação estatística ” (sobre este assunto, ver também artigo do GPP na Secção “Observatório”). O recurso a trabalho eventual rea- lizado por imigrantes retoma o que se passou com os ranchos migratórios. No quadro da agricultura familiar, “ onde antes se mobilizava a entreajuda (…) beneficia-se agora, dada a grande melhoria nas con- dições de mobilidade, da vinda de familiares e ami- gos da cidade, durante um fim-de-semana ou umas curtas férias ”. “ A profunda transformação tecnoló- gica associada ao desenvolvimento da externaliza- ção/terciarização tem contribuído para reconfigurar o quadro institucional do trabalho agrícola .” Joaquim Domingos Ângelo começa por salientar que a mudança que vai ocorrendo na atividade agrícola e no espaço rural decorre da necessidade, por exemplo, de lidar com a tendência de redução dos preços agrícolas. Uma possibilidade de redu- zir custos é “ que o investimento seja concretizado de forma dominante com aquisição de serviços ” mas a grande parte das mudanças que ocorrem no processo agrícola vai ter expressão nos custos de exploração. “ As mudanças que têm ocorrido no sentido de a exploração agrícola se tornar mais efi- ciente o que, em última instância, significa produção com custos unitários mais baixos, fazem apelo cada vez maior à utilização de serviços externos à explo- ração ”, o que implica “ a existência da oferta neces- Fotografia: Malhando o milho. Guarda, Grijó, Antiga Estação Agrária do Porto. Artur Pastor, 1954. Coleção do acervo do MAFDR

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