CULTIVAR 1 - Volatilidade dos Mercados Agrícolas

8 As medidas de política agroalimentares respondiam emgrande medida a esta situação: preços tabe- lados, reservas alimentares, produção obrigatória, combate aos açambarcadores, etc. A integração de mercados nacionais em espaços geográficos mais amplos, os progressos nas capa- cidades de transporte e armazenagem e a eliminação de riscos cambiais atenuaram fortemente os ris- cos de volatilidade do passado. No entanto, outros fatores geradores de alterações bruscas dos preços surgiram: volatilidade dos custos de produção (energia, taxas de juro), crises geradas por perceção de riscos de segurança alimentar, choques de oferta globais em reação a situações particulares, especu- lação financeira com bens agrícolas e ressurgimento de fatores geopolíticos (alianças e conflitos ente blocos, preservação de soberania nacional no quadro de integração económica, volatilidade das polí- ticas cambiais, etc.). Na secção «GrandesTendências», composta por «artigos de opinião», apresentam-se contributos de quatro autores, que dão um espectro alargado desta temática, através do cruzamento de sensibilidades provenientes de diferentes áreas de conhecimento e atividade. O primeiro texto, da autoria de Tassos Haniotis, apresenta um enquadramento global do tema. São adiantados alguns contributos, teóricos e empíricos, explicativos da questão do desenvolvimento dos preços nos mercados agrícolas, entre os quais se salientam o efeito combinado de alguns fatores ma- croeconómicos, a utilização dos mercados de bens agrícolas para aplicações financeiras, as mudanças ao nível da gestão dos stocks de bens agrícolas e a crescente ligação dos mercados agrícolas aos mer- cados energéticos. Faz ainda uma breve exposição do debate em torno das respostas políticas a dar ao problema, enquadrando-as na reforma da política agrícola comum (PAC). O artigo da autoria de Bianchi de Aguiar aborda o tema das matérias-primas utilizadas na produção de biocombustíveis. Neste artigo, o autor, depois de fornecer o enquadramento político nacional e in- ternacional, adota como foco o caso dos biocombustíveis em Portugal, na perspetiva da sua produção, incorporação e redução de emissões de gases com efeito de estufa (GEE), as limitações que daí decor- rem e outras implicações. São ainda destacados alguns dados estatísticos sobre este tema. Uma das secções do texto passa pela análise da grande volatilidade dos preços no mercado das matérias-primas e dos biocombustíveis. Uma das maiores contribuições do texto apresentado por Jorge Neves é a abordagem a alguns aspe- tos menos conhecidos acerca da formação de preços internacionais de bens agrícolas, entre os quais se salienta a «financeirização» do negócio como um fator explicativo da volatilidade dos preços, tomando como caso de análise o mercado do milho. Um quarto texto, de Manuel Marcelo Curto, descreve um quadro geopolítico que denomina a «nova desordemmundial» e observa os riscos de perda de legitimidade da governação internacional e da fra- gilidade da influência europeia. Entre as reflexões, sugere-nos que a própria situação mundial é em si mesmo caracterizada pela Volatilidade . Neste quadro constatamos a importância que os acordos mul- tilaterais e bilaterais podem ter neste reequilíbrio de forças de onde se destaca a negociação do acordo UE-EUA (TTIP).

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