CULTIVAR 1 - Volatilidade dos Mercados Agrícolas

54 Europeia e a Rússia, em detrimento da permanên- cia, sempre delicada, por diferenças históricas, remontando à não vivência pelo lado russo de momentos determinantes como a Renascença e a Reforma, daquele país na família europeia – sendo tal permanência civilizacionalmente básica para uma compreensão plena da identidade cultural da Europa. Antes pareceria preferir-se arriscar jogos geopolíticos no cora- ção da Eurásia, não se medindo, aparen- temente, o seriíssimo risco e gravíssimas consequências de uma fragmentação da Federação Russa. A situação é tanto mais paradoxal quanto a Europa enfrenta, na sua vertente sul, umdesafio adiado, hoje porémdecla- rado na sua plenitude. A primavera árabe, sendo inevitável, anunciava desde o início, precisamente pelas razões que estavam na sua origem, uma dé- cada de, pelo menos, fortíssima instabilidade. Por um lado, era logo à partida claro que seria muito difícil aos novos regimes dar resposta satisfatória ao que provocara as rebeliões. Por outro lado, a di- ferença entre os países do Norte de África e os da Península Arábica e do Golfo tornou-se ainda mais manifesta. No Iraque e na Síria ressurgiram reali- dades subsumidas pelos acordos Sykes-Picot, na forma, entretanto, de um radicalismo extremis- ta sem fronteiras mas ambicionando a criação de uma efetiva base territorial em tal região – onde se perpetuam alguns dos problemas mais séri- os da herança por liquidar do Império Otomano, e desde logo o problema, fundamental em ter- mos mentais, israelo-palestino – repartida incon- sequentemente pela França e Grã-Bretanha como despojos de um Império Otomano que sabia, ele, como gerir os equilíbrios da região. A recetivida- de que tal ideia encontrou na juventude europeia, muçulmana ou apenas “perdida” nos problemas sociais, ou sobretudo culturais da Europa, amplia a instabilidade europeia, e criando no Levante (e po- tencialmente ainda no Norte de África, desde logo por continuar o Cairo a ser um farol cultural) testas de ponte, reativas, ao exportarem de volta à Eu- ropa um radicalismo culturalmente corrosivo e/ou abertamente terrorista. Os impérios resistem, sem surpresa, melhor a estas situações, a Tur- quia, apesar de erros de focagem ou menor perceção das realida- des locais, a recordação otomana já estando um tanto no passado, afir- mando-se como um ele- mento de articulação, desde logo numa trian- gulação, histórica (mas disso se fazem os impé- rios), com a União Europeia e a Rússia, enquanto “hub” energético, na gestão do Mar Negro e do seu litoral, incluindo o Cáucaso, e para além dele. O Irão pareceria ter visto na situação criada na sua região e no divórcio entre a UE e a Rússia – afasta- da inclusive que foi uma colaboração entre estes dois últimos logo no caso sírio, tal como numa in- compreensão de que oCáucaso é, marcadamente, não mais do que a antecâmara do Médio Oriente – um momento de oportunidade para resolução da questão em torno do seu programa nuclear, no fundo elemento da ambição, mais uma vez histó- rica, de hegemonia regional, herdada, nessa pre- cisa linha, do último Xá. O posicionamento central do país no “puzzle” do Médio Oriente e Golfo – tornado ainda mais agudo pelo apagamento do Iraque nos equilíbrios deste último, como pela “aliança” xiita abrangendo (agora) Bagdad e o re- gime sírio – veio a reiteradamente sobressair com as perspetivas pós-2014 do Afeganistão e os efei- tos dessa situação para leste, no Paquistão, e para norte, na Ásia Central, como com quanto se passa no mundo árabe e com a sua conturbada dinâmi- ca interna. A Arábia Saudita afirma-se – a par de Israel (com, afinal, o Irão, e aTurquia, o outro polo Fala-se de “nova desordem mundial” para qualificar uma situação em que nenhuma força seria reconhecida como determinante do rumo a seguir, muito pelo contrário é mesmo a região do mundo mais estável e autorregulada, a Europa, que surge, também ela, condenada à instabilidade […]

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