CULTIVAR 1 - Volatilidade dos Mercados Agrícolas

53 Um Novo Mundo Novo Manuel Marcelo Curto Embaixador de Portugal, MNE O ocaso, depois do eurocentrismo, do euromorfismo – que, consagrando todo um corpo de valores tomados por adquiridos, estava na base do sistema moderno de relações internacionais, tendo como farol a Carta das Nações Unidas, a sua letra e espírito, e a dinâmica da estrutura que fomentara – pare- ceria nos dias de hoje ser inelutável. Fala-se de “nova desordem mundial” para qualificar uma situação em que nenhuma força seria reconhecida como determinante do rumo a seguir, muito pelo contrário é mesmo a região do mundo mais estável e autorregulada, a Europa, que surge, também ela, condenada à instabilidade e à perda da paz. Por um lado, a crise trouxe a perda da prosperidade àquele continente, visto como envelhecido, avesso à imigração, com economias atravessando um prolongado “soft patch” ou situações de estagnação que se desenham como penosamente duráveis, com um desemprego alar- mantemente elevado, em particular o dos jovens, com níveis de pobreza que não conhecia há muito e uma desigualdade de rendimentos refletida com ênfase nos seus efeitos negativos para uma classe média baluarte da paz civil e dos regimes democráticos, enfim, um continente dividido quando não condenado nos dias de hoje, aventa-se, a uma fragmentação política, económica e social – e cultural. O diagnóstico pode ser demasiado negro, mas as nuvens que rodeiam hoje a Europa não são propícias a bons augúrios. A incapacidade até agora revelada para resolver, a exemplo do que Bismarck soube fazer, culminan- do no Tratado de Berlim de 1878, a questão existencial da Europa colocada pelo fator Rússia, ameaça a criação nas fronteiras ocidentais (porque não poucas outras há, bastante se esquecendo por vezes da dimensão imperial russa e da massa crítica que representa) daquele país de uma zona de nem paz nem guerra, de uma situação de conflito de maior ou menor intensidade sem estruturas de uma sua reso- lução para além da eventual sucessão de momentos de abrandamento que, no entanto, se não con- verterão em armistícios ou num retorno efetivo à paz. O regresso a um sistema de zonas de influência pareceria hoje fatal, conduzindo a um afastamento dos parâmetros que regeram a esperança poste- rior à queda do Muro de Berlim e ao termo dos regimes de enclausuramento dos países europeus. O paradigma que ameaça ressurgir, sob nova forma, é o de um distanciamento entre os países da União

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