CULTIVAR 1 - Volatilidade dos Mercados Agrícolas

16 a partir de 2006: maior volatilidade, significativa coevolução dos preços e níveis de preços mais elevados para todos os índices de preços de ma- térias-primas. Embora seja verdade que a volatilidade e a co- evolução dos preços, que inicialmente orientaram o debate sobre as causas da evolução dos pre- ços, parecem estar a reduzir-se, o nível dos preços agrícolas continua elevado e deverá manter-se acima das expectativas anteriores (i.e. alta de pre- ços pré-2008) no futuro próximo. Na tentativa de encontrar as causas desta evolução, foram propostas diversas explicações alternativas. Inicialmente, a maioria destas abor- dagens era de natureza unidimensional. A mais notável de todas, es- pecialmente nas fases iniciais do debate, con- sistiu na atribuição da causa dessa explosão nos preços agrícolas ao efeito combinado de uma limitada disponibilidade de terras e redu- ção no aumento da produtividade, um forte cres- cimento mundial da população e do rendimento, especialmente na China e na Índia, e ao cons- tante aumento da utilização não alimentar de matérias-primas agrícolas. Estes fatores macroe- conómicos poderão ter afetado o nível de preços, mas a sua relação com a alta volatilidade dos pre- ços dos últimos tempos é menos evidente. Este período foi também caracterizado por baixas ta- xas de juros, com um impacto direto da evolução macro através de outras variáveis, como diferen- ças nas taxas de crescimento do PIB ou nas taxas de câmbio. O aumento significativo do PIB da China, quando comparado não só com o PIB dos prin- cipais países desenvolvidos mas também com o aumento deste indicador nos outros países BRIC, veio somar-se ao aumento da procura de matéri- as-primas, especialmente metais e minerais, en- quanto a desvalorização do dólar desempenhou o seu papel no aumento dos preços das matéri- as-primas, uma vez que estes são normalmen- te expressos em dólares. No entanto, tornou-se cada vez mais evidente que o inegável aumento da procura mundial de alimentos não estava ne- cessariamente a mudar mais depressa do que se pensara anteriormente e que era a oferta que es- tava a abrandar mais. São os desfasamentos na resposta do lado da oferta que parecem gerar a maior parte das pre- ocupações relacionadas com a capacidade de a produção agrícola satisfazer os aumentos de po- pulação e de rendimento, com pouco mais terra disponível para entrar em produção, pelo menos a médio prazo, e que levaram a que se pre- conizasse que uma muito mais forte ênfa- se na investigação, na inovação e na transfe- rência de conhecimen- to é essencial na tentativa de “produzir mais com menos”. A volatilidade climática e a crescente in- fluência das alterações climáticas acrescentaram também uma nova dimensão às preocupações ex- pressas, especialmente as relacionadas comexpe- tativas futuras, desempenhando ainda um papel importante no agravamento do impacto do clima na evolução dos preços. O aumento global dos níveis de preços, por ve- zes explosivo, trouxe outra possível fonte de expli- cação, associando a discussão a um “superciclo” nas matérias-primas. O impacto da “financeiriza- ção”, ou seja, da transformação das matérias-pri- mas em valor patrimonial, centrou o debate nas falhas de mercado, reais ou aparentes, que foram agravadas pela crise financeira. A “financeiriza- ção” das matérias-primas trouxe uma quantida- de significativa de ativos sob gestão (AUM) aos mercados agrícolas, aumentando assim a quan- […] a causalidade real das variações de preços das matérias-primas agrícolas é efetivamente multidimensional e muito mais complexa do que é muitas vezes descrito.

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