CULTIVAR 1 - Volatilidade dos Mercados Agrícolas

17 tidade de dinheiro “estranho” aos fundamentos dos mercados agrícolas. Continua a ser uma ques- tão muito debatida até que ponto estes desenvol- vimentos afetaram a evolução dos preços, mas os factos são claros. O dinheiro que entrou nos mercados agrícolas parece ter estabilizado nos últimos anos e as posições especulativas estão claramente a diminuir. Como contra-argumento à atribuição da vo- latilidade dos preços aos mercados financeiros, uma outra abordagem, esquecida durante al- gum tempo devido à evolução dos mercados no final da década de 1990, regressou em força. As variações nas reservas explicariam o que estava a acontecer com os preços, não como resultado de uma falha de mercado, mas como um sinal de que os mercados estavam a desempenhar o seu papel, sobretudo porque a redução nas reservas de certas matérias-primas foi muito significativa. No caso de duas matérias-primas que dominaram o debate sobre a segurança alimentar, o trigo e o milho, é manifesto que esta relação inversa de- sempenhou o seu papel no recente aumento dos preços agrícolas. Quando expressa em termos reais, a resposta dos preços aos níveis de reser- vas difere entre o trigo e o milho a partir de 2005, com os preços do milho a mostrarem-se aparen- temente mais sensíveis às variações nas reservas do que os do trigo. A enfâse nas reservas trouxe, por sua vez, para o primeiro plano uma ligação cada vez mai- or dos mercados agrícolas aos mercados ener- géticos, através daquilo que era na época um acontecimento inegável. No curto prazo, as po- líticas comerciais postas em prática por alguns exportadores agravaram o efeito nos preços da escassez de oferta real ou aparente nos merca- dos mundiais, mas o aumento significativo da utilização de alimentos para animais na produ- ção de biocombustíveis (milho para etanol nos EUA, oleaginosas para biodiesel na UE), incenti- vada por imperativos políticos, teve um impacto inevitável no equilíbrio do mercado, especial- mente para os cereais, ao criar uma componen- te nova e claramente observável de crescimento da procura. Gerou-se assim a tendência de atri- buir aos biocombustíveis um papel excessivo no aumento dos preços agrícolas. No entanto, a recente estagnação da procura de biocombus- tíveis, tanto nos EUA como na UE, e a persis- tência de um elevado nível de preços agrícolas, indicam que a relação entre agricultura e ener- gia pode ser menos direta e mais complexa do que parecia. A relação entre energia e agricultura foi reco- nhecida, de diversas maneiras, como sendo rele- vante para estas abordagens políticas pela ligação a diferentes aspetos da produção alimentar, tais como os custos diretos associados à energia, os custos energéticos relativos entre os diferentes intervenientes ou os custos indiretos associados às indústrias a montante e a jusante, principal- mente de fertilizantes. A “revolução” do gás de xisto nos EUA trouxe uma nova dimensão a esta complexa interação, através dos impactos diretos e indiretos nos pre- ços das matérias-primas e das alterações nos cus- tos de produção relativos da economia em geral e da agricultura entre os EUA e os seus principais parceiros comerciais, ou do impacto das variações relativas dos preços do gás no mercado dos ferti- lizantes. Estes desenvolvimentos também vieram acrescentar uma outra dimensão à disparidade de produtividade emergente entre o mundo desen- volvido e o mundo em desenvolvimento, e à dife- rença de impacto potencial que essa disparidade tem em diversos países. Assim, com base na breve descrição anterior, tanto a literatura como a experiência sugerem que a causalidade real das variações de preços das matérias-primas agrícolas é efetivamente multidi- mensional e muito mais complexa do que é muitas vezes descrito .

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