CULTIVAR 1 - Volatilidade dos Mercados Agrícolas

104 Em termos globais, as tradicionais regiões expor- tadoras manterão as suas posições. A América Latina e Caribe e América do Norte reforçarão a suas lideran- ças, tornando-se, em 2023 os principais exportadores líquidos da maioria dos bens, quer em volume quer em valor. Os maiores défices comerciais em volume regis- tar-se-ão em Africa e na Ásia, com a China a liderar o crescimento das importações. Há uma separação geográfica entre a oferta e a pro- cura que favorece o comércio. Por outro lado, verifica- -se que as exportações estão geograficamente muito concentradas e as importações mais dispersas pelo mundo. O Outlook antecipa que o fim do sistema de quotas do açúcar naUnião Europeia representará uma diminu- ição das importações de açúcar e um aumento da pro- dução de açúcar proveniente da cultura de beterraba, por parte da UE. No que respeita à evolução dos preços, o Outlook recorda que a recente alta de preços teve como respos- ta um forte aumento da produção de bens alimentares em 2013, conduzindo, de maneira geral, a uma corre- ção dos preços durante os primeiros anos do período sob projeção. No balanço final, os preços reais de todos os bens fixar-se-ão abaixo dos verificados no período mais re- cente (2011-2013). Quando comparados com a década passada, os preços reais dos cereais, do arroz, das ole- aginosas, dos óleos vegetais, do açúcar e do algodão serão mais baixos. Enquanto os relativos à pecuária, laticínios, peixe e etanol serão mais elevados do que a média registada na última década. O Outlook faz um destaque para os fatores macro- económicos que influenciam os preços dos alimentos. Reconhecendo que o aumento dos preços, no perío- do de 2007-2008, suscitou um interesse renovado pela compreensão da problemática, assinala que a opinião consensual é a de que são vários os fatores explicati- vos do aumento dos preços, embora exista divergência quanto à contribuição de cada um dos fatores. Indi- ca ainda que os fatores explicativos relacionados com o aumento dos preços mais citados são: as condições ambientais desfavoráveis, o aumento dos preços da energia, o aumento da procura por biocombustíveis, a depreciação do dólar, o abrandamento da produtivida- de, os baixos níveis de existências cerealíferas e espe- culação de mercado. No entanto, segundo a análise realizada pelo pró- prio Outlook, os fatores mais explicativos para os mo- vimentos dos preços dos produtos alimentares são os relacionados com o lado da procura e de natureza ma- croeconómica, designadamente o aumento da procu- ra oriunda dos mercados emergentes, as alterações da taxa de câmbio nos Estados Unidos, a oferta de moeda americana e o preço do petróleo. Relativamente a este último fator, ressalva que a sua relação com os preços alimentares provavelmente foi alterada com a emer- gência dos biocombustíveis, muito embora não haja consenso entre os investigadores sobre a dimensão desse impacto. Dada a natureza global dos determinantes, o Outlo- ok defende ainda que as políticas destinadas a mitigar os impactos da alta de preços dos bens alimentares re- querem coordenação multilateral. Comentários: O relatório sob leitura fornece informações impor- tantes sobre as tendências do mercado e as projeções de bens, a forma como estas são influenciadas pelas políticas, e as incertezas que podem influenciar o exer- cício de prospetiva. Constitui, pois, uma leitura funda- mental para todos os envolvidos com as políticas e os mercados agrícolas. Aquando da apresentação do relatório em Roma (http://reliefweb.int/report/world/oecd-fao-agricul- tural-outlook-2014-2023), José Graziano da Silva, diretor-geral da FAO, sublinhou a mensagem mui- to positiva do Outlook e o bom desempenho do se- tor agrícola nos países em desenvolvimento. Por seu lado, Angel Gurría, secretário-geral da OCDE, desta- cou o regresso a condições mais estáveis nos merca- dos agrícolas. Atendendo ao papel que as reformas políticas têm na alteração das estruturas dos mercados, constitui uma limitação do Outlook não levar em conta a Lei Agrícola de 2014 dos EUA e a reforma da Política Agrí- cola Comum de 2013 na UE em toda a sua extensão. No mesmo sentido, incertezas quanto à decisão da Agência de Proteção do Ambiente dos Estados Uni- dos (EPA) relativa aos biocombustíveis significa que importantes alterações de política podem ter impli- cações significativas ao nível da produção dos respe- tivos bens, pelo que as atuais projeções podem não refletir a realidade da próxima década.

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