CULTIVAR 9 - Gastronomia

Editorial 9 que o sucesso só foi possível através da conjugação dos esforços dedicados dos vários intervenientes, privados e públicos, com um objetivo muito deter- minado de promover internacionalmente um pro- duto com uma identidade única. Uma organização interprofissional como a ViniPortugal desempenhou também um papel importante “ não defendendo nem promovendo valores ou interesses particulares, desta ou daquela parte do setor, mas sim visando um interesse coletivo, em que todos, associados ou não associados, virão a beneficiar, mas sobretudo será o País o principal beneficiado. ” Francisco Bendrao Sarmento elabora uma análise sobre a gastronomia em Portugal, e a sua (re)inven- ção. Partindo do Manifesto para o Futuro da Cozi- nha Portuguesa (documento subscrito por vários dos principais chefs da cozinha nacional e apresen- tado na secção III), reflete sobre as ameaças e opor- tunidades desta valorização da identidade culinária portuguesa e do seu papel na atração de turismo. “ Esta valorização deveria assim contribuir para níveis acrescidos de coerência entre os sistemas agrários tradicionais, as paisagens e os serviços em nome dela oferecidos, ou seja, à (re)invenção da gastro- nomia tradicional em curso deve corresponder uma (re)conexão entre sistemas e paisagens alimentares tradicionais .” Contudo, assiste-se a uma erosão da cultura alimentar tradicional derivada do facto de a alimentação se ter separado da família, do pra- zer e da espiritualidade, ou seja da relação com o mundo natural envolvente. O autor refere ainda o contributo que a FAO pode prestar neste domínio, através do programa de identificação e conserva- ção dinâmica de sistemas de património agrícola. Através do contributo de Diogo Amorim, é-nos rela- tado um caso real da relação entre os operadores ao longo da cadeia da produção de que resultou a oportunidade de apresentação na panificação arte- sanal dematéria-prima cerealífera diferenciada. Par- tindo da contextualização das dificuldades de pro- dução e fornecimento de cereais panificáveis nas condições produtivas em Portugal, são descritas as características e etapas que a escolha de varieda- des, a produção agrícola e a produção industrial (moagem, amassadura, fermentação, cozedura…) podem ter no produto final – o pão. Embora o pão seja um alimento central da gastronomia nacional, o seu uso generalizado e de conveniência ainda não permitiu difundir as diferenças que o produto final tem em termos nutricionais, de sabor e aroma, algo que se for percecionado pelo consumidor nacional pode potenciar o uso das nossas variedades tradi- cionais. A abrir a secção Observatório, considerou-se rele- vante apresentar uma análise sobre a forma de materializar a oferta ao consumidor final de produ- tos genuínos dos sistemas agrícolas nacionais, par- ticularmente num contexto de negócio (em anexo, alguns dados sobre as relações entre o setor produ- tivo e o setor do alojamento e restauração). Desta forma o GPP, partindo de quatro questões, contac- tou diretamente os agentes no terreno. Recolhe- ram-se experiências desde elementos mais criati- vos, com uma vertente artística muito acentuada sem contudo deixarem de ter uma vida empresarial intensa, até à vertente mais pragmática mas tam- bém inovadora de uma ligação muito estreita à pro- dução. Divulgamos no texto “Solo, Cozinha e mesa: cinco receitas para quatro questões” os depoimen- tos de José Avillez, Bertílio Gomes, Kevin Gould, João Pereira e Gonçalo Bagulho Albino. Nesta secção, está também disponível um con- tributo de Carlos Carvalho, do INE, com a análise dos resultados da Balança Alimentar Portuguesa para o período 2012 a 2016. Neste texto, destaca- -se que a comparação da distribuição das quanti- dades de produtos alimentares disponíveis diaria- mente para consumo per capita apuradas com o padrão alimentar recomendado pela Roda dos Ali- mentos revela uma distorção do padrão das dis- ponibilidades face ao recomendado, com destaque para o consumo de carne, pescado e ovos (+11%) e gorduras e óleos (+4%) e um consumo em défice no caso das frutas e hortícolas (-7%).

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