Cultivar_8_Digital

cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 8 JUNHO 2017 114 tes abordagens de pagamentos para a conservação da biodiversidade e uso sustentável na agricultura, aos desafios políticos para a conservação da biodi- versidade, aos critérios de seleção e de avaliação dos instrumentos de política, terminando com uma revisão dos instrumentos de política atuais, e por fim, o Capítulo 4, com base num teste prático a par- tir de informação estatística da Finlândia, analisa e descreve as diferentes abordagens de pagamentos, distinguindo as mais eficientes. Síntese do documento: O Capítulo 2 do docu- mento procurou definir alguns conceitos no qua- dro da biodiversidade e agricultura, nomeadamente biodiversidade 1 , agrobiodiversidade 2 e agroecossis- temas 3 . Este capítulo abordoa ainda a interação entre os ecossistemas agrícolas e a agrobiodiver- 1 Definida como a variabilidade entre organismos vivos de todas as origens incluindo, terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos, e os complexos ecológicos das quais fazem parte; inclui a diversidade intra e inter espé- cies e dos ecossistemas. Acrescenta-se que a biodi- versidade compreende três níveis hierárquicos: genes, espécies e ecossistemas, sistemas constituídos por com- ponentes bióticos (organismos vivos) e abióticos inter-re- lacionados através de determinados processos. 2 Definido como um subgrupo da biodiversidade e que inclui todas as culturas vegetais e animais de produção, respetivos parentes selvagens, todas espécies de poli- nizadores, simbiontes, pragas, parasitas, predadores e competidores. Alguns autores dividem as componentes bióticas em produtivas (culturas vegetais e animais de produção), auxiliares (polinizadores e organismos vivos do solo) e destrutivas (ervas-daninhas, pragas e patogé- neos). 3 O papel da biodiversidade nos agroecossistemas não se resume apenas à produção de alimentos, fibras e com- bustível mas também à reciclagem de nutrientes, con- trolo do microclima local, regularização dos processos hidrológicos e dos organismos indesejáveis, e desintoxi- cação dos químicos nocivos. A biodiversidade depende de quatro características principais dos agroecossiste- mas: diversidade da vegetação nos agroecossistemas e na vizinhança dos mesmos; permanência de várias cultu- ras nos agroecossistemas; intensidade de gestão; dimen- são do isolamento do agroecossistema face à vegetação natural. Os agroecossistemas que são mais diversos, per- manentes, isolados e geridos de forma menos intensiva sidade, nomeadamente os impactos das práticas agrícolas na biodiversidade. Por um lado, a atividade agrícola depende de ser- viços dos ecossistemas tais como a polinização, o controlo de pragas e a reciclagem de nutrientes. Por outro lado, a agricultura pode ter impactos benéficos, como por exemplo o pastoreio extensivo, a produção tradicional de feno, rotações culturais, pousio e faixas/corredores nas parcelas (que for- necem alimento, abrigo e interconectividade entre parcelas), que deram origem a habitats e paisagens seminaturais; ou nefastos para a biodiversidade, nomeadamente decorrentes de uma maior inten- sificação, especialização e racionalização da ativi- dade agrícola 4 . O Capítulo 3 do documento dedica-se à lógica ine- rente à necessidade de criação de instrumentos políticos para a conservação da biodiversidade em habitats seminaturais agrícolas, que sejam mais económicos e ambientalmente eficientes, e respe- tiva descrição, focando-se nos instrumentos econó- micos, que têm despertado maior interesse nos últi- mos anos. Este capítulo começa por abordar os diferentes desa- fios no âmbito da conservação da biodiversidade, que se prendem, nomeadamente, com as caracterís- ticas inerentes à própria biodiversidade (e.g. hetero- geneidade, irreversibilidade, impactos cumulativos, assimetria e falhas de informação e mistura de valo- res) e que dificultam a construção de instrumentos beneficiam de processos ecológicos ligados à biodiver- sidade. 4 Por exemplo, decorrentes da aplicação de fertilizan- tes e pesticidas (e.g. dominância herbácea, toxicidade dos pesticidas para flora e fauna auxiliar), da mobiliza- ção e sementeira de pastagens com novas cultivares (e.g. menos alimento para invertebrados), especialização e menor utilização de rotações (e.g. menos interconectivi- dade entre parcelas, menos fontes de alimento e locais de reprodução), alargamento das parcelas removendo as faixas (reduz a diversidade dos habitats e a interconecti- vidade).

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