Cultivar_6_Comercio Internacioanl

cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 6 NOVEMBRO 2016 16 A mais recente oposição à conclusão de acordos bila- terais como o TPP ou o TTIP releva de vários fatores, entre os quais os choques que acordos precedentes pro- vocaram em certos setores com perdas de ativi- dade económica e emprego, e o calendário político nos EUA e na UE (França e Alemanha em especial). É sempre mais visível a perda de empregos que pode ser atribuída à concorrência externa, do que a criação de empregos que beneficia do aumento de comér- cio mesmo que esta seja numericamente superior. A situação económica desde 2008 reforça tendên- cias protecionistas, que estão em claro crescimento. O modelo atual não está esgotado, mas o ritmo de progressão enfrenta maiores resistências. Os bene- fícios são mais difusos que os desafios, e os poten- cialmente perdedores mais ativos e vocais que os potenciais ganhadores. Devemos parar? Devemos voltar para trás, e apostar em economias fechadas? Os que defendem recuos na abertura comercial, e há quem dentro da UE defenda maior proteção comer- cial para o bloco, e mesmo quem defenda maior proteção entre países da UE, não explicam como o setor agrícola e alimentar europeu se posicionaria para participar da expansão da procura de alimen- tos no mundo (+50% ate 2030 segundo a FAO). Esse acréscimo da procura virá essencialmente dos países em vias de desenvolvimento, e não da UE. Condenaríamos o nosso setor alimentar à estag- nação? Perderíamos ainda mais quota de mercado mun- dial? E como faríamos evoluir a produtividade eco- nómica da nossa agricultura e a sua competitivi- dade com menos concorrência? Num plano mais próximo, se o acordo TTIP ficar blo- queado, e o acordo TPP se concretizar (um cenário com um grau de probabilidade relativamente elevado), os mercados dos EUA e dos países da orla do Pacífico ficarão bem menos acessíveis para a UE que terá de pagar taxas aduaneiras mais elevadas. O Brexit só agravara a nossa situação se recuar- mos na liberalização do comércio. É bem provável que o Reino Unido se abra ao resto do mundo, tor- nando-se um dos maiores mercados para a UE-27 (com cerca de 22 mil milhões de euros de balança comercial agrícola favorável) bem mais difícil para as nossas exportações agroalimentares. Sem descartar os desafios do modelo atual, como ilustrado mais acima com os casos das negociações do TTIP e com o Mercosul, a melhor resposta não está em voltar a modelos protecionis- tas mas sim em prosseguir a reforma da Política Agrícola Comum de forma a reforçar as áreas mais frágeis. Uma estratégia que aposte na continuação gradual da abertura de mercados, com especial cuidado em relação a certos setores sensíveis (p.ex. carnes, açú- car e etanol com o Mercosul), e que prepare as filei- ras europeias para uma maior concorrência e as defenda de forma eficaz de crises de mercado, per- mitiria expandir o setor e torná-lo mais competi- tivo. Uma política de investimentos em tecnologias que aumentem a produtividade, e que contribuam para preservar o ambiente, e uma melhor resposta aos desafios da globalização que o fechar-se sobre si mesmo. Uma cria riqueza, que se pode distribuir, a outra diminui a criação de riqueza. … o modelo continua a visar uma liberalização progressiva das trocas comerciais, e o estabelecimento de regras comuns que facilitem o comércio. Sem descartar os desafios do modelo atual, a melhor resposta não está em voltar a modelos protecionistas mas sim em prosseguir a reforma da Política Agrícola Comum de forma a reforçar as áreas mais frágeis.

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