Cultivar_10_Trabalho na agricultura e as novas tendências laborais

cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 10 DEZEMBRO 2017 22 dos maioores conhecedores da obra de Keynes – o autor não errou nas previsões de crescimento, mas falhou rotundamente na redução do tempo de tra- balho: o tempo de trabalho diminuiu efetivamente em média nos países capita- listas desenvolvidos, mas, se as atuais tendências se prolongarem no futuro próximo, em 2030 trabalha- remos em média 35 horas e não 15 como Keynes previa. Para os Skidelsky, a explicação para o erro de pre- visão de Keynes situa-se na interseção de três tipos de explicação: o prazer do trabalho e o medo da inatividade, a necessi- dade e a insaciabilidade. Segundo eles, “o erro de Keynes foi acreditar que o amor do ganho libertado pelo capitalismo podia ser saciado com a abundância, deixando as pessoas livres para gozarem os frutos de uma vida civilizada… [ele] não compreendeu que o capitalismo desencadearia uma nova dinâmica de criação de desejos…” 25 Em suma Não sabemos se estamos ou não perante uma vaga tecnológica comparável em consequências às expe- rimentadas no passado. “Os robots podem estar por todo lado”, como noti- cia a comunicação social, “mas tardam a aparecer nas estatísticas” 26 . Na rea- 25 Ibid ., p. 41-42. 26 Carvalho da Silva; Manuel, Hespanha, Pedro; Teles, Nuno e Caldas, José Castro (2017), “Introdução” in Carvalho da Silva; Manuel, Hespanha, Pedro e Caldas, José Cas- lidade, nas estatísticas da economia tecnologica- mente mais avançada no mundo – a norte-ame- ricana – o que se pode ler entre 1995 e 2014 é uma redução das taxas de crescimento da produtivi- dade. No entanto, o espaço público encontra-se satu- rado de anúncios da che- gada de batalhões de robots inteligentes dispostos a produzir muito por pouco dinheiro e a empurrar os humanos para as fileiras das reservas do exér- cito industrial. Na expetativa de contribuir para a melhoria de qualidade do debate acerca das consequências no emprego e no traba- lho das novas tecnologias, evocámos controvérsias passadas. Desse exercício decorre, em primeiro lugar, como facto pouco mais do que curioso, que as narra- tivas sobre o fim do traba- lho que predominam no espaço mediático a serem tributárias de alguma herança teórica, são-no muito mais de Marx do que dos economistas apologistas incondicionais do progresso tecnológico que habitualmente inspi- ram a maioria dos comentários económicos nesse mesmo espaço mediático. Decorre, em segundo lugar, que a ‘compensação’ da destruição de emprego pela mecanização depende de instituições capazes de alinhar o crescimento da produtividade do trabalho e dos salários e não dos mecanismos de mercados desimpedidos. tro (Coords.) (2017), Trabalho e Políticas de Emprego – um Retrocesso Evitável , Lisboa: Actual, pp. 16-33 … três tipos de explicação: o prazer do trabalho e o medo da inatividade, a necessidade e a insaciabilidade. Não sabemos se estamos ou não perante uma vaga tecnológica comparável em consequências às experimentadas no passado. “Os robots podem estar por todo lado”, como noticia a comunicação social, “mas tardam a aparecer nas estatísticas”. … a ‘compensação’ da destruição de emprego pela mecanização depende de instituições capazes de alinhar o crescimento da produtividade do trabalho e dos salários e não dos mecanismos de mercados desimpedidos.

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