Cultivar_10_Trabalho na agricultura e as novas tendências laborais

Tecnologia e desemprego: já aqui estivemos antes 21 Mundial. No entanto, esse desemprego esteve mais relacionado com crises que tiveram origem no setor financeiro, do que com as transformações tecnoló- gicas ocorridas. Já no longo período que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, os acréscimos de produtividade decorrentes da inovação tecnológica foram acompanhados de incrementos proporcionais dos salários, da procura e do produto, compatíveis com níveis relativamente baixos de desemprego. No entanto, algures em finais da década de 1970, o crescimento dos salários deixou de acompanhar o crescimento da produtividade, os salários reais estagnaram e as taxas de desemprego, embora sujei- tas a flutuações cíclicas, começaram a aumentar em tendência. As desigual- dades de riqueza e rendi- mento acentuaram-se. Este cenário, que não sendo de ‘pauperização absoluta da classe operária’, se aproxima bastante da ‘paupe- rização relativa’, remete-nos para Marx e O Capital . Os 150 anos que medeiam entre os nossos dias e a publicação de O Capital , não obstante os episó- dios de desemprego massivo e a tendência mais recente para o agravamento das desigualdades e o aumento do desemprego, dificilmente podem ser descritos no seu conjunto como de aumento contí- nuo do exército industrial de reserva e pauperização da classe operária. Marx falhou na sua previsão? Na realidade, as leis formuladas por Marx servem mal o objetivo da previsão. Nos termos de Marx, essas leis, incluindo a “lei geral e absoluta da acu- mulação capitalista”, estavam sempre sujeitas a modificações decorrentes de muitas circunstân- cias. É portanto plausível que ao longo do século XX se tenham precisamente verificado circunstâncias que contrariaram uma ten- dência de facto inerente ao capitalismo. Que cir- cunstâncias seriam essas? O que tornou possível que nos 30 anos que se segui- ram à Segunda Guerra Mundial o crescimento da produtividade fosse acompanhado de crescimento dos salários e da procura? Não foram certamente os mecanismos de um mercado de trabalho ‘fle- xível’. Foram antes, um conjunto de dispositivos institucionais como a legislação do trabalho, os sindicatos e a contrata- ção coletiva, cuja origem radica em desenvolvimen- tos situados numa esfera política que não obedece estritamente a determi- nantes de natureza econó- mica. O que explica o desa- linhamento dos salários e da produtividade a partir de finais da década de 1970? Entre outras causas, o enfraquecimento des- ses mesmos dispositivos institucionais em nome da flexibilidade, determinado igualmente por dinâ- micas políticas. Próximos do cumprimento do centenário do artigo de Keynes, e portanto da consumação do seu hori- zonte de previsão, consta- tamos que Keynes se enga- nou. Qual foi o erro de Keynes? Segundo Robert (e Edward) Skidelsky 24 – um 24 Skidelsky, Robert e Skidelsky, Edward (2013), How Much is Enough? – Money and the Good Life , Londres: Penguin Books … É portanto plausível que ao longo do século XX se tenham precisamente verificado circunstâncias que contrariaram uma tendência de facto inerente ao capitalismo. Que circunstâncias seriam essas? … um conjunto de dispositivos institucionais como a legislação do trabalho, os sindicatos e a contratação coletiva, cuja origem radica em desenvolvimentos situados numa esfera política que não obedece estritamente a determinantes de natureza económica. Keynes… não errou nas previsões de crescimento, mas falhou rotundamente na redução do tempo de trabalho:…

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