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cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 8 JUNHO 2017 84 património geológico. Esta situação privilegiada é consequência da nossa localização e contexto (bio) geográfico e das suas condicionantes geofísicas, e para ela contribui também a singularidade dos terri- tórios insulares e a extensa superfície e diversidade dos ecossistemas marinhos do espaço marítimo sob jurisdição nacional. Este manancial complexo de elevada bio e geodiver- sidade suporta um conjunto de serviços dos ecos- sistemas, reais ou potenciais, mas ainda insuficien- temente (re)conhecidos, avaliados e contabilizados, os quais no seu conjunto agregam o capital natu- ral do país. Num território profundamente moldado pela pre- sença e a atividade humana desde há séculos, todo este capital natural está intimamente ajustado a um vasto e antigo património histórico e cultural com o qual se interliga e muitas vezes se confunde – o capital cultural, constituindo um fator diferencia- dor e valorizador incontornável do território nacio- nal (terrestre e marinho) e, por essa via, de afirma- ção da nossa identidade e soberania a nível europeu e mundial. Neste contexto, a política de conservação da natu- reza e da biodiversidade tem nas sociedades moder- nas uma dimensão e complexidade crescentes, enfrentando um duplo desafio. Assume o seu papel de serviço público e de garante da gestão ambiental do território, num quadro de conservação do capital natural, e simultaneamente constitui um importante motor de desenvolvimento local e regional. Parar a perda da biodiversidade, através da recupera- ção de ecossistemas degradados e da manutenção, valorização e valoração dos seus múltiplos serviços, é assim um fator de desenvolvimento económico, de competitividade, de qualidade de vida das popula- ções e das comunidades e de salvaguarda dos pro- blemas globais e dos riscos naturais. O aprofunda- mento da integração da biodiversidade e do capital natural que aquela suporta nas estratégias, progra- mas e políticas setoriais, e na economia do país, assim como a sua valoração e integração nas con- tas pública e privadas, são questões chave da polí- tica global de desenvolvimento e coesão territorial. Recorrendo ao exemplo da Rede Natura 2000, os múltiplos benefícios por ela gerados no contexto da UE foram estimados em 200 a 300 mil milhões de euros 21 , emmuito excedendo os custos da sua desig- nação e gestão. A Rede Natura 2000 e a aplicação das Diretivas Aves e Habitats contribuem para as econo- mias locais através, designadamente, da criação de emprego e do turismo, da fixação de carbono e do aprovisionamento de recursos naturais, sendo que, para setores como o turismo e recreação, uma ava- liação da Comissão Europeia feita em 2011 revelou que os sítios da Rede Natura 2000 atraem um inves- timento anual de 50 a 85 mil milhões de euros 22 . Contudo, como referido acima, a internalização dos custos não foi ainda alcançada, nem são suficien- temente reconhecidos os benefícios socioeconómi- cos de muitos dos serviços dos ecossistemas forne- cidos pela Rede. Este é um fator essencial na prossecução das metas do crescimento económico inclusivo, sustentável e inteligente, preconizadas na Estratégia Europa 2020, tendo em vista uma economia hipocarbónica, que constitui o referencial económico e de desenvolvi- mento da UE até ao final da década, assim como dos objetivos de desenvolvimento sustentável preconiza- dos na Agenda 2030 das Nações Unidas. 21 Ten Brink et a l (2011) The economic benefits of the Natura 2000 network http://ec.europa.eu/environment/nature/ natura2000/financing/docs/ENV-12-018_LR_Final1.pdf 22 Estimating the economic value of the benefits provided by the tourism/recreation and employment supported by Natura 2000 – Final Report , Comissão Europeia – DG Ambiente, dezembro de 2011 http://ec.europa.eu/envi- ronment/nature/natura2000/financing/docs/Estimating_ economic_value.pdf

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