Cultivar_8_Digital

65 A importância da agricultura na conservação da natureza TITO ROSA Presidente da Liga para a Proteção da Natureza A natureza é algo que apreciamos, mas é dada como adquirida. Gostamos de a contemplar, mas não entendemos o quanto dependemos dela e de que forma está diretamente associada à nossa vida. De vez em quando, invocamo-la como “mãe”, outras vezes, em tempos de catástrofe ou adversi- dade, chamamos-lhe “madrasta”. Quase nunca nos responsabilizamos pela quota-parte dos danos que nos causamos por à natureza danos maiores ter- mos causado. No entanto, a natureza é, na realidade, o nosso habi- tat. É na natureza que encontramos os elementos fundamentais para a nossa vida: os solos, a terra que nos tem possibilitado cultivar e alimentar, a água que é gerada pelos elementos naturais, embora depois dela façamos, por apropriação, comércio, e as plantas que, através do “milagre” da clorofila, nos proporcionam o oxigénio que respiramos. Vivemos uma certa “loucura” de tecnologia, rodea- dos ou satisfazendo-nos com os mais variados e maravilhosos gadgets , glorificamos conquistas e avanços, mas sempre nos esquecemos que os ele- mentos fundamentais do habitat que nos permi- tem viver não são fabricáveis e têm a sua origem na natureza. Não somos capazes de avaliar, porque em boa parte o que recebemos é gratuito e dado como adquirido, os serviços essenciais que a natureza nos presta e que são vitais para a nossa vida. Mesmo depois de estudos, avaliações e outras tantas intervenções ou acordos nos dizeremque devemos remunerar os ser- viços do ecossistema, de forma generalizada, ainda não o interiorizámos, porque, em abono da verdade, a natureza continua a ser gentil na sua oferta. Partilhamos este habitat, com maior ou menor dife- rença, com outras espécies, as quais desconsidera- mos, por altivez ou sentimento semelhante, ou con- sideramos menores, irracionais e que devem estar ao nosso serviço a todo o preço, incluindo o da des- truição ou alteração irreparável das suas condições de vida e dos ecossistemas onde se acolhem e ali- mentam. Tal como a “mãe” natureza por vezes nos sur- preende com manifestações mais ou menos violen- tas, alertando-nos para os danos que lhe causamos (as manifestações mais tangíveis porque atingem urbanos e rurais, cidades e campos, são as climá- ticas), também as espécies de fauna ou flora, pelo seu declínio ou desaparecimento, são importantes sinais de alerta para a perda da biodiversidade que

RkJQdWJsaXNoZXIy NDU0OTkw