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39 A importância da agricultura na preservação da biodiversidade FRANCISCO MOREIRA 1,2 E ÂNGELA LOMBA 1 1 CIBIO/InBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, Universidade do Porto 2 CEABN/InBIO – Centro de Ecologia Aplicada “Professor Baeta Neves”, Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa 1. Agricultura e biodiversidade: os “bons” e os “maus” De forma genérica, o impacto das atividades agríco- las na biodiversidade depende fundamentalmente do grau de intensificação das práticas agrícolas uti- lizadas. Num extremo, uma agricultura muito inten- siva, com grandes inputs de nutrientes e químicos, elevada carga animal e com a utilização de grandes parcelas de cultivos, está associada a baixos níveis de diversidade e à ocorrên- cia de espécies generalistas e habitats sem interesse de conservação. No outro extremo do gradiente, a existência de práticas agrí- colas mais extensivas, com baixa carga animal e inputs reduzidos de nutrientes e fertilizantes, pode levar à criação de mosaicos paisagísticos aos quais estão associados habitats e espécies raros e com valor de conservação. Curiosamente, existe um para- doxo neste extremo do gradiente, em que se pode- riam esperar níveis máximos de biodiversidade na ausência de atividade agrícola: existem atualmente espécies e habitats que estão dependentes de um regime de perturbações apenas recriado num con- texto da existência de atividade agrícola. Neste caso, estes elementos da biodiversidade pode- rão desaparecer caso exista abandono da agricul- tura (que se poderia assumir como um extremo da extensificação). Em resumo, quer a intensificação, quer o abandono agrícola podem representar um fator de perda de biodiversidade. Um dos exemplos mais paradigmá- ticos do impacto negativo da intensificação agrí- cola é dado pelas tendên- cias populacionais de aves associadas a zonas agríco- las (e.g. Donald et al . 2001). Existem, no entanto, mui- tos estudos que mostram impactos negativos signifi- cativos noutros grupos da fauna e da flora (e.g. Stoate, 2001). Existem também estudos que comprovam a perda de biodiversidade em consequência do abandono da agricultura. Numa análise global das respostas dos vertebra- dos mediterrânicos da Europa ao abandono da agricultura, Moreira & Russo (2007) sugerem que a perda da diversidade de vertebrados associados a áreas agrícolas não será compensada pelo poten- cial incremento de espécies associadas a matos Em resumo, quer a intensificação, quer o abandono agrícola podem representar um fator de perda de biodiversidade. Um dos exemplos mais paradigmáticos do impacto negativo da intensificação agrícola é dado pelas tendências populacionais de aves associadas a zonas agrícolas …

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