Cultivar_8_Digital

cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 8 JUNHO 2017 14 plo, no caso da perda de serviços de polinização, controlo biótico de pragas e doenças, e forneci- mento de nutrientes pelo ecossistema solo. A prote- ção destes serviços de ecossistemas usados como inputs produtivos na agricultura é fundamental para o sucesso da intensificação de base ecológica, uma estratégia de aumento de produção com menores custos ecológicos e económicos (face ao aumento do preço da energia e, portanto, dos inputs indus- triais com mais elevada incorporação de energia). Por outro lado, a maior parte das dimensões da biodiversidade, sejam elas a diversidade de espécies com valor de existência para as pessoas, a diversi- dade genética, muitos ser- viços dos ecossistemas e também a diversidade de conhecimentos locais associados, por exemplo, aos agroecossistemas tra- dicionais, têm características de bem público mais ou menos puro. Por isso, são de esperar múltiplas falhas de mercado na conservação da biodiversi- dade, o que implica que os problemas de conser- vação associados aos três planos acima referidos requeiram também uma resposta em termos de políticas públicas, ação de entidades representa- tivas de interesses coletivos (associações agríco- las ou ONGA) e não apenas individuais, bem como uma concertação estratégica entre as diversas par- tes interessadas. Os três planos acima referidos e esta necessidade de políticas estão bem refletidos nos diversos temas abordados pelos artigos incluídos na secção “Gran- des Tendências” deste volume da CULTIVAR. Fran- cisco Moreira e Ângela Lomba sublinham a impor- tância da gestão agrícola de baixa intensidade produtiva na conservação da biodiversidade asso- ciada às Áreas Agrícolas de Elevado Valor Natural na Europa; neste contexto, abordam de modo crítico a tese do land sparing (intensificação da produção agrícola para deixar mais terra para a natureza), por- que esta ignora a dependência de diversos elemen- tos da biodiversidade face à gestão agrícola exten- siva; propõem ainda uma abordagem baseada nos sistemas agrícolas para informar a política de con- servação. Cristina Branquinho et al . fala da relação entre os serviços dos ecossistemas e a biodiversi- dade que lhes subjaz, para depois se centrar num caso de estudo da perceção da fileira do vinho, para tentar compreender de que forma os serviços dos ecossistemas se enquadram na agricultura “e como podem ser promovidos por via do conhecimento e ges- tão da agrobiodiversidade”. Teresa Pinto Correia subli- nha a importância da abor- dagem das relações entre agricultura, biodiversidade e serviços de ecossistemas à escala da paisagem, per- mitindo identificar uma diversidade de processos em curso e de situações-tipos de paisagens dife- rentes, que requerem respostas diferenciadas. Car- los Aguiar e Ana Maria Carvalho discutem, por sua vez, o tema da agricultura enquanto utilizadora de recursos genéticos, os diversos graus de domesti- cação envolvidos nesta utilização e o processo de transição entre o agroecossistema orgânico tradi- cional e o modelo industrial. No resto deste artigo, abordamos as relações entre sistemas agrários e conservação da diversidade de espécies no contexto das Áreas Agrícolas de Elevado Valor Natural (AAEVN), na Europa, distin- guindo primeiro os padrões de relação entre agri- cultura e biodiversidade, na Europa, do panorama mais geral, a nível global. A forte associação entre determinados modos extensivos de gestão agrícola e áreas com elevada biodiversidade na Europa é, em seguida, interpretada com base na hipótese do nível intermédio de perturbação proposta por Con- nell em 1978. A nível global, a principal causa direta de perda de biodiversidade reside na destruição de habitats pro- … a perda de biodiversidade é também uma perda de diversidade funcional, da qual resultam ecossistemas locais menos resilientes e menos capazes de fornecer uma diversidade de serviços de ecossistemas em proveito do bem-estar humano.

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