Cultivar_4_Tecnologia

cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 4 JUNHO 2016 80 com períodos de declínio e de recuperação em termos de VAB, mas com uma redução persis- tente do emprego. Apesar das melhorias verificadas na economia azul em Portugal, não existem para já instrumen- tos de quantificação (em termos de VAB e emprego) da atividade económica menos formal desenvol- vida pelas comunidades litorais, tanto no que diz respeito à pequena pesca, como à aquacultura (moluscicultura e piscicultura). Os setores de nicho tecnológico, como é o caso da biotecnologia azul, ainda não estão refletidos nas estatísticas oficiais, pelo que também escapam à quantificação. Idên- tica situação ocorre no que diz respeito às cadeias de valor mais complexas. Independentemente das limitações da estatística que serão ultrapassadas no quadro da nova conta satélite do mar no INE, e independentemente do tempo necessário para que as estratégias que têm sido desenvolvidas encontrem reflexo na economia real, torna-se claro a necessidade de ser acelerado o processo de transferência de conhecimento entre o sistema de investigação e inovação e o setor eco- nómico, de forma a ser suportada a recuperação tecnológica dos setores tradicionais. Este processo tem sido acelerado nos países onde o mar tem uma maior importância, pela formação de clusters mari- nhos e marítimos. 4. A importância de clusters marítimos A hibridação entre a investigação e inovação e a ati- vidade económica no mar tem conduzido os paí- ses com maior foco no mar à criação de verdadei- ros clusters marítimos. Os casos mais relevantes são os do Polo de Competência de Brest, em França, da comunidade marítima e marinha de Bergen, na Noruega, ou da construção e reparação naval na região da Galiza, Espanha e do polo de suporte ao O&G em Aberdeen na Escócia. Estes polos de competência agrupam unidades industriais, pequenos fornecedores, centros de investigação e de formação. A proximidade entre estes atores permite à comunidade de investiga- ção e ensino a identificação das necessidades das empresas e ao setor económico a maior capaci- dade de identificação das tendências e das possibi- lidades oferecidas pela inovação. Em muitos casos a criação destes clusters permite ainda a partilha de meios e a facilitação do acesso ao mar. Em Por- tugal, apesar do desenho conceptual de clusters e mesmo híper-clusters do mar, apenas existem ini- ciativas ainda em fase de desenvolvimento, orga- nizadas à volta do Porto de Leixões, com envol- vimento da Universidade do Porto e do IPMA, e existem intenções semelhantes à volta do polo de Pedrouços-Algés. O reforço da internacionalização e o aumento da competitividade da economia do mar em Portu- gal deverá também ser alcançado pelo aumento da presença de operadores internacionais capazes de intervir na escala global e de criar oportunida- des de emprego para todos os níveis de qualifica- ção. As áreas emergentes deverão ser privilegia- das (infraestruturas offshore , operações robóticas submarinas, manufatura naval inteligente). A atra- ção destes parceiros poder-se-á basear na oferta de ambientes propícios à cooperação, na proximi- dade à economia do Atlântico, na simplicidade dos processos administrativos e jurídicos, e na colabo- ração estreita de universidades, unidades de inves- tigação, e PME de serviços de base tecnológica que apostem na inovação. Referências Commission of the European Communities. Roadmap for Maritime Spatial Planning: Achieving Common Principles in the EU . COM (2008) 791 Final. COM (2012) 494. Blue Growth opportunities for marine and maritime sustainable growth .

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