Cultivar_4_Tecnologia

cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 4 JUNHO 2016 106 No entanto, prognosticar taxas de produtividade futuras é sempre difícil, já que a qualquer momento novas tecnologias podem transformar a economia, deitando por terra todas as previsões. Mesmo espe- cialistas do calibre de Gordon têm uma capacidade de previsão limitada. A Idade do Ouro Na primeira parte do seu novo livro, Robert Gor- don defende que o período entre 1870 e 1970 foi um “século excecional”, em que foram lançadas as bases do mundo moderno. Eletricidade, instalações sanitárias, aquecimento central, automóveis, aviões, rádio, vacinas, água potável, antibióticos e muito, muito mais, transformaram as condições de vida e de trabalho nos EUA e em grande parte do mundo ocidental. Nenhum outro século na história mun- dial trouxe um progresso comparável. A probabili- dade de conclusão do ensino secundário disparou de 6% em 1900 para quase 70% e muitos ameri- canos deixaram as zonas rurais, mudando-se para cidades e subúrbios cada vez mais confortáveis. A luz elétrica iluminou casas anteriormente escuras, a água corrente eliminou doenças transmitidas pela água e as comodidades modernas permitiram à maior parte das pessoas abandonar de vez o traba- lho físico pesado. Ao sublinhar a excecionalidade deste período, Robert Gordon contesta a posição normalmente defendida por muitos economistas de que a eco- nomia norte-americana deveria crescer pelo menos 2,2% ao ano, depois de consideradas as flutuações do ciclo económico. E a história de Gordon revela igualmente que nem todos os aumentos do PIB são iguais. Algumas fontes de crescimento, como os antibióticos, as vacinas ou a água potável, trans- formam a sociedade muito para além da corres- pondente percentagem no PIB. Outras porém não o fazem, como acontece com muitos dos artigos de luxo desenvolvidos a partir da década de 1980. Os cálculos do PIB nem sempre refletem estas dife- renças. Neste aspeto, a análise de Gordon é muito correta, extremamente importante e, por vezes, bri- lhante – só por esta parte, vale bem a pena com- prar e ler o livro. O autor prossegue, afirmando que os atuais pro- gressos tecnológicos, embora extraordinários, não se comparam com aqueles que transformaram a economia norte-americana durante o tal “século excecional”. Embora os computadores e a Internet tenham conduzido a alguns desenvolvimentos sig- nificativos, tais como a possibilidade de comunica- ção quase instantânea a grande distância, a maior parte das novas tecnologias apenas geram melho- rias marginais de bem-estar. O automóvel, por exemplo, representou um grande avanço em rela- ção ao cavalo, mas os recentes desenvolvimentos neste setor têm-se traduzido em resultados decres- centes. Os automóveis atuais são mais seguros, têm menos furos e melhores sistemas de som, mas essas são mudanças marginais e não fundamentais. Essa mudança – de transformações significativas para avanços menores – reflete-se nas atuais taxas de produtividade mais baixas. Veja-se a história da aviação. Gordon chama a atenção para o facto de que, em 1958, um voo de Boeing 707 de Los Angeles para Nova Iorque demo- rava 4,8 horas, o que na verdade é até um pouco menos do que demora hoje. Com efeito e paradoxal- mente, desde a adoção generalizada do Boeing 707, os tempos das viagens aéreas aumentaram, devido aos atuais constrangimentos em termos de aeropor- tos e segurança. Os aviões tornaram-se muito mais seguros, mas o setor da aviação tem sido surpreen- dentemente lento a efetuar outras grandes altera- ções tecnológicas. Na verdade, o DC-3, um pequeno e versátil avião extremamente prático, mas que data dos anos 30, continua ainda hoje a ser utilizado, mesmo nos EUA. Gordon analisa igualmente o modo como as pen- sões de reforma e outros benefícios laborais têm vindo a decrescer desde a década de 1970. Por exemplo, a percentagem de trabalhadores com um plano de pensões definido caiu de 30% em 1983 para 15% em 2013. A abordagem do autor a este

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