Cultivar_3_Alimentação sustentável e saudávell
91 O papel das leguminosas nos sistemas alimentares HÉLDER MUTEIA Responsável do Escritório da FAO em Portugal e junto da CPLP A questão alimentar está no centro dos debates sobre a sustentabilidade e o futuro da Humanidade. Cresce a consciência de que os hábitos alimenta- res, e toda a dinâmica que os envolve, cumprem um papel fundamental no presente e no futuro da vida no planeta. Os sistemas alimentares têm evidenciado uma cres- cente capacidade produtiva, mas revelam desequi- librios que importa abordar com urgência. Perante a explosão demográfica que atingiu o seu auge entre os anos 60 e 80, a grande preocupação alimentar situava-se a nível da disponibilidade. Com o agra- vamento dos índices de desigualdade e pobreza, as atenções viraram-se também para o acesso aos alimentos. A fome e malnutrição que afeta cerca de 800 milhões de pessoas no mundo, particular- mente crianças, e ainda os assustadores índices de sobrepeso e obesidade que afetam no conjunto 1.400 milhões de pessoas, motivaram uma cres- cente preocupação com aspetos ligados à utiliza- ção dos alimentos. Os danos ambientais causados por práticas agrícolas agressivas de lavoura, fertili- zação dos solos, produção pecuária e combate às pragas, impuseram uma reflexão sobre a sustenta- bilidade da base de recursos naturais que sustenta a produção alimentar. Um aspeto que tem merecido particular destaque nos últimos tempos é a crescente e quase avassala- dora onda de urbanização, que origina novos hábi- tos alimentares. Atualmente, cerca de 50% da popu- lação mundial vive em cidades, em 2050 esta cifra poderá chegar a 70%. Os hábitos urbanos fazem com que as dietas sejam cada vez menos diversifi- cadas e com uma maior preponderância da comida pré-processada e do fast-food . Esta realidade traz implicações nutritivas e ambientais que têm resul- tado em acesos debates em contextos científicos, sociais, empresariais e políticos. Nessa tendência de redução da diversidade dos alimentos, as leguminosas estão entre as culturas mais ameaçadas porque os mercados ganharam primazia nos sistemas alimentares e nem sempre sinalizam as suas inúmeras vantagens (nutritivas, económicas, sociais e ambientais). As leguminosas secas (grupo da qual fazem parte os feijões, lentilhas, ervilhas secas, tremoços, grão- -de-bico, etc.) sofreram particularmente este efeito. Apesar de a sua produção ter praticamente dupli- cado a nível mundial desde os anos 60, o consumo per capita tem vindo a decrescer de forma lenta, mas constante, passando de 7,6 kg/pessoa/ano em
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