cultivar_25_Investimento_agricultura

Evolução da dinâmica de investimento de uma exploração agrícola 91 A Herdade da Dobra, seguindo o pensamento vigente na época, aderiu também a uma organização de produtores. Infelizmente, a organização de natureza cooperativa a que aderiu funcionou de forma defi- ciente, acabando por abrir falência e ser liquidada. A organização não conseguiu defender os produtores da diminuição de preços, acabandomuitos deles por desistir da venda através desta. Tal como aconteceu com outras organizações de produtores que se formaram na altura, a falta de experiência e de capacidade técnica para gerir a nova situação de concorrência aberta que se estabeleceu acabou por ditar o seu encerramento. Muitas destas estruturas acabaram por ser adquiridas ou tomadas por entidades particulares, deixando de funcionar como reais associações de produtores e passando a ser operadores de comércio privado (grossistas), que fazem a ligação da produção ao mercado de retalho, alguns com grande dimensão regional. Com o desenvolvimento das grandes superfícies retalhistas, com uma capacidade negocial despro- porcionada em relação aos operadores grossistas e aos produtores individuais, são esses grandes reta- lhistas que ditam os preços e as condições de aceita- ção da produção no seu espaço de venda. Assim se estabeleceu uma cadeia de transmissão de valor no escoamento da produção, em que todos os operadores têm as suas margens de comercialização mais oumenos garantidas excetooprodutor agrícola, que tem de vender a sua produção ao preço que lhe é imposto e arcar com os riscos de eventuais exces- sos ou perda de produção. Regra normal no setor é o produtor não saber antecipadamente o preço a que vai vender a sua produção. Por outro lado, os preços que o boletim do Sistema de Informação de Merca- dos Agrícolas (SIMA) divulga semanalmente nada têm a ver com a realidade das transações operadas factualmente, que se situa muitas vezes em metade do valor divulgado. A Herdade da Dobra não escapou a esta realidade, acabando por se desvincular da associação de pro- dutores a que aderira, optando por fazer o seu pró- prio caminho. Passou a negociar a sua produção individualmente com os operadores que em cada ano pareciam dar melhores garantias de escoa- mento e pagamento. A oscilação de preços intra e interanual que se estabeleceu foi brutal: houve anos em que o preço recebido por determinadas varie- dades de laranja não ultrapassou os 9 cêntimos por quilograma, nos casos mais favoráveis os preços alcançaram os 42 cêntimos. Desde 2012, ano em que assumimos a plena gestão da Herdade da Dobra, a produção foi vendida a um preço médio de 24 cênti- mos, equivalente ao custo de produção, alternando anos de ganhos e perdas. Analisando os resultados financeiros da exploração neste período, não houve ganhos nem perdas. Esta incerteza e volatilidade nos preços (por vezes do simples para o quádruplo) criou constrangimentos financeiros na gestão da explora- ção, que só sobreviveu ao longo do tempo graças aos apoios comunitários das ajudas de superfície a ajudas agroambientais. Em 2012, dada a idade do pomar, era patente a necessidade de promover o seu rejuvenescimento, bem como ajustá-lo em termos varietais (variedades mais tardias obtêm melhores cotações), a fim de lhe conferir maior produtividade. Assim, foi apresentado um projeto de investimento ao Programa de Desen- volvimento Rural (PRODER) para reconversão do pomar. Esta iniciativa acabou por não surtir o efeito desejado na medida em que, apesar do projeto ter obtido aprovação, nunca foi possível obter o finan- ciamento comunitário para o efeito, por insuficiência de dotação financeira da medida de financiamento. Uma segunda iniciativa foi desenvolvida também sem quaisquer resultados, culminando um período de três anos de tentativas de financiamento através dos fundos comunitários, que seria fundamental para alavancar o investimento necessário. A relação do produtor agroflorestal com as entida- des estatais encarregadas de conceber as medidas de acesso ao financiamento comunitário, analisar as candidaturas e efetuar os pagamentos, tem-se vindo a revelar cada vez mais longínqua e difícil. O conjunto de regras de partida, impostas pela União Europeia, a transcrição dessas regras para a ordem administrativa nacional e as imposições dos suces- sivos instrumentos de ordenamento florestal intro-

RkJQdWJsaXNoZXIy NDU0OTkw