Cultivar_10_Trabalho na agricultura e as novas tendências laborais

25 Trabalho agrícola: percursos e modelos FERNANDO OLIVEIRA BAPTISTA* E JOAQUIM CABRAL ROLO** * Instituto Superior de Agronomia (ISA) / Universidade de Lisboa ** Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), I.P. 1. A primeira metade do século XX foi um tempo em que o cultivo da terra avançou por charnecas e encostas. De 1906 a 1940, o número de cabeças de gado de trabalho aumentou de trezentos e vinte mil, o que corresponde a mais de novecentos mil hectares de terra trabalhada, por ano. Ainda pelo final dos anos de 1960, pese a quebra de cerca de 40% desde o meio do século nas unidades de tra- ção do gado de trabalho, a relevância das explo- rações agrícolas com trator era inferior a 2%. E, no total das unidades de tração mobilizadas pelas explorações agrícolas, as de origem mecânica ron- davam os 40%; era ainda o tempo do prevalecimento da tração animal no coad- juvar do trabalho braçal 1 . A par daquele acréscimo, a população ativa que se declarava agrícola retor- nava ao nível de 1890, depois de uma quebra até à década de 1920. Onde não entrava a junta de bois, havia sempre braços para o cultivo. 1 A informação de base a que se apela no texto tem ori- gem, no fundamental, no INE ( Censos e Recenseamentos / Inquéritos às explorações agrícolas – do de 1952/54 ao de IEA2013) e em estudos/trabalhos de investigação que contaram com o envolvimento dos autores. Foram anos em que recuaram os incultos e cres- ceu o produto agrícola, numa tendência em que pesaram, além da tração animal e, sobretudo, do número de ativos, as tecnologias que iam tomando o lugar dos instrumentos e práticas tradicionais, nomeadamente novas máquinas ainda não moto- rizadas. Em 1950, a população ativa em Portugal era de 3,2 milhões de pessoas, das quais quase metade na agricultura, onde se repartia por patrões (10%), assala- riados (60%) e trabalhado- res familiares (30%). Destes últimos, muitos integravam os ranchos migratórios que, todos os anos, saíam das aldeias da pequena agricul- tura para as ceifas, mondas, vindimas e apanha da azei- tona no Alentejo e Ribatejo, mas tambémno Douro e noutras regiões. Numa esti- mativa de 1956, estas migrações abrangiam, anual- mente, entre setenta a cem mil pessoas que, nestas deslocações, se sujeitavam a muito penosas con- dições de vida e de trabalho [Caixa 1]. Eram movi- mentos populacionais que decorriam da pobreza das aldeias e das elevadas necessidades de mão- -de-obra, concentradas em curtos períodos, nalgu- A primeira metade do século XX foi um tempo em que… recuaram os incultos e cresceu o produto agrícola, numa tendência em que pesaram, além da tração animal e, sobretudo, do número de ativos, as tecnologias que iam tomando o lugar dos instrumentos e práticas tradicionais, nomeadamente novas máquinas ainda não motorizadas.

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