Cultivar_10_Trabalho na agricultura e as novas tendências laborais

cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 10 DEZEMBRO 2017 110 Cresceu o emprego, mas os salários nem tanto Em muitos casos, o crescimento do emprego recu- perou e as taxas de desemprego estão agora de volta aos valores anteriores à recessão. Ainda assim, o crescimento do salário nominal permanece infe- rior ao que era antes desse período. O crescimento lento dos salários pode refletir um esforço delibe- rado de contenção, para evitar níveis insustentáveis anteriores à crise, como foi o caso em alguns países da Europa. Mas este padrão é mais generalizado e existem vários fatores em jogo para o explicar, tanto cíclicos como estruturais. Um fator cíclico chave é o excedente existente no mercado de trabalho, ou seja, o excesso de oferta de mão-de-obra além da quantidade que as empre- sas desejariam empregar. Vários países registaram também taxas mais eleva- das de emprego a tempo parcial involuntário (tra- balhadores empregados com menos de 30 horas por semana que relatam que gostariam de traba- lhar por mais tempo) e um aumento dos contratos de trabalho temporário. Estes desenvolvimentos refletem em parte a reduzida procura de mão-de- -obra (um reflexo da fraca procura final de bens e serviços). Outra determinante do fraco crescimento dos salá- rios é a desaceleração amplamente reconhecida da produtividade. Um baixo output por hora de tra- balho pode comprimir a rentabilidade das empre- sas e, eventualmente, pesar sobre o crescimento dos salários na medida em que as empresas ficam menos dispostas a acomodar aumentos rápidos nas remunerações. Fatores de movimento lento Além destas forças, existem fatores de mudança mais lenta, como a automação em curso e a dimi- nuição das expectativas de crescimento a médio prazo, que também parecem bloquear o cresci- mento salarial. No entanto, a análise sugere que a automação pode não ter contribuído de forma significativa para a dinâmica do fraco crescimento salarial após a Grande Recessão. A análise também indica importantes fatores glo- bais por detrás deste fraco crescimento salarial, nomeadamente, as condições do mercado de tra- balho noutros países parecem ter um efeito cres- cente na determinação dos salários nas diferentes economias. Isto aponta para o possível papel da ameaça de deslocalização da produção entre paí- ses, ou para um aumento na efetiva oferta mundial de mão-de-obra através da imigração. Variações consoante os países Os papéis relativos do excedente no mercado de trabalho e do crescimento da produtividade variam consoante os países. Em economias onde as taxas de desemprego ainda são sensivelmente superio- res às respetivas médias antes da recessão (como Itália, Portugal e Espanha), o elevado desemprego pode explicar cerca de metade da desaceleração do crescimento salarial nominal desde 2007. O cres- cimento salarial é, portanto, improvável até que diminua de forma significativa o excedente no mer- cado de trabalho - um resultado que exige políti- cas de estímulo contínuas para impulsionar a pro- cura agregada. Em economias onde as taxas de desemprego são inferiores à média antes da recessão (como Ale- manha, Japão, Estados Unidos e Reino Unido), o lento crescimento da produtividade pode represen- tar cerca de dois terços da desaceleração do cres- cimento salarial nominal desde 2007. Mesmo aqui, no entanto, o emprego involuntário a tempo par- cial parece pesar sobre o crescimento salarial, suge- rindo uma maior desaceleração no mercado de tra- balho do que a redução da taxa de desemprego parece indicar. Avaliar o verdadeiro grau do exce- dente no mercado de trabalho nessas economias

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