Livro do Centenário do Ministério da Agricultura

OS TEMPOS INCERTOS . 1926-1978 // 46 // Isto sabemos: A terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra. Isto sabemos: Todas as coisas estão ligadas como o que une uma família. Há uma ligação em tudo. O que ocor- rer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não teceu o tecido da vida; é simplesmente um dos seus filhos. Tudo o que fizer ao tecido fará a si mesmo. Onde está a águia? Desapareceu. É o final da vida e o início da sobrevivência. Carta do chefe Seattle ao Presidente dos EUA, Franklin Pierce (1885) 1. ANTECEDENTES No decorrer dos dois últimos séculos, o nosso país viveu em contínua crise do trigo. Para se per- ceber o que nos aconteceu, temos de ver o problema à luz de dois parâmetros essenciais: a pro- dução e o consumo. No caso da produção, não temos, como vimos, as condições naturais (clima e solos) favoráveis aos cereais de outono/inverno que ocorrem noutros países No que respeita aos solos, do ponto de vista agrícola, a maior extensão do território nacional tem solos pobres, derivados de rochas sedimentares como os xistos ou de rochas eruptivas como os granitos. Acontece que o trigo é um cereal muito exigente em termos de solo. Não tendo grandes extensões de solos férteis para o trigo, nem sequer condições climáticas fa- voráveis, a produção nacional de trigo é cara, ou seja, não dá rendimento suficiente ao agricul- tor. Em consequência, a produção nacional de trigo, para existir tem, na generalidade dos ca- sos, de ser subsidiada, tornando o trigo nacional mais caro do que o importado. Ao longo da nossa História, a questão do trigo foi sempre complexa. No terço final do século XIX, e nos governos chefiados por Fontes Pereira de Melo, este praticou uma política liberal, por outras palavras, de livre-troca. Foi assim um período de “pão barato”. Na passagem do sé- culo XIX para o século XX, outro chefe de governo, Elvino de Brito, praticou uma política protecionista, elevando as taxas alfandegárias, para dificultar a importação de trigo e subsi- CAPÍTULO VII A CAMPANHA DO TRIGO 1930-1973

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