Livro do Centenário do Ministério da Agricultura

OS TEMPOS DIFÍCEIS . 1910-1925 // 36 // 1. UMA COOPERAÇÃO AB INITIO Para quem nasceu próximo do termo da 1.ª República, esta terá sido um somatório de desas- tres. No plano interno, a instabilidade política, os sucessivos governos, as carências alimenta- res, as greves operárias, os desacatos na rua, os revoltosos de várias cores políticas (e sempre com o “dedo no gatilho”) traziam o “mal e a caramunha”. No plano externo tinha havido a Grande Guerra, um outro somatório catastrófico. E para cú- mulo, ainda tivemos a pneumónica!… É verdade que a República teve períodos de agitação política deploráveis e é com alguma ra- zão que vários historiadores utilizaram uma terminologia inequívoca, para os designar: a “bal- búrdia sanguinolenta”. É pois neste cenário que nasce o Ministério da Agricultura, em plena guerra e ao mesmo tempo que o Ministério das Subsistências e Transportes. Esta simultaneidade não resultou de um mero acaso, tendo sido decidida com clarividência. E até é provável que tenha sido, na atuação no ter- reno (nas cidades e nos campos), nas precárias circunstâncias da guerra e do pós-guerra, uma espécie de “seguro de vida” para o Ministério da Agricultura, que acabaria por revelar grande vitalidade. Note-se ainda que passaram pelo Ministério da Agricultura, nesse período, diversos oficiais do Exército, que sabiam muito bem que a intendência passa pela retaguarda. Para procurar resolver as muitas carências, quer de alimentos, quer dos chamados géneros de primeira necessidade, que provocavam assaltos a padarias, mercearias, etc. e as corresponden- tes intervenções das autoridades, para minimizar tudo isto, era necessário atuar, em coordena- ção, tanto do lado da produção, como do lado do consumo. Era esta a grande tarefa dos dois Ministérios recém-criados: o da Agricultura passou a atuar diretamente e a nível governativo sobre a oferta de alimentos; o das Subsistências e Transpor- tes passou a assegurar a disciplina e a equidade na procura, estabelecendo simultaneamente a via da ligação entre a produção e o consumo. Por seu lado, o Ministério do Comércio também atuou no seu âmbito, procedendo a importa- ções de cereais, adubos, etc., não obstante a guerra e os submarinos alemães, fomentando a ex- portação de vinhos, cortiça, etc. CAPÍTULO V 1918, UM MINISTÉRIO DA AGRICULTURA PARA A PAZ, EM TEMPO DE GUERRA

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