Livro do Centenário do Ministério da Agricultura

A MEMÓRIA E OS TEMPOS // 15 // I Quando, em 9 de março de 1918, o Ministério da Agricultura foi criado, podemos considerar o acontecimento como uma reabilitação. E esta, a meu ver, deve ser entendida como uma re- paração (talvez mesmo, o saldo…) de uma dívida de um daqueles governos meteóricos 47 da 1.ª República, para com os agricultores portugueses. Antes de prosseguir, recordemos a situação envolvente nesse trimestre inicial de 1918. O nosso país entrara de moto-próprio naquela que é considerada a 1.ª Guerra Mundial (1914-1918). Não é este o lugar para discutir (nem sequer analisar) se a decisão política foi acertada ou não. Apenas realço uma vertente – a de enviar um corpo de exército para a frente de combate, em França, e as suas consequências: as Finanças estavam exaustas e, nas trincheiras da Flandres, os homens também 48 . Nestas circunstâncias, até se compreende que no governo anterior a agricultura estivesse a cargo do Ministro do Trabalho, o professor do Instituto Superior de Agronomia (ISA) Eduardo Lima Basto. E, como que para desfazer qualquer equívoco, este, com base numa legislação (dita reformista…) de 1915 e 1916, deu o título de “Mobilização Agrícola” ao setor agrícola do ministério a seu cargo. Assim, o Decreto que publicou foi bem explícito: “(…) Enquanto durar o estado de guerra, e até dois anos depois de assinado o tratado de paz, incumbe ao Ministro do Trabalho: a) Dinamizar uma ativa propaganda do aumento das culturas, junto dos agricultores, dos sindicatos agrícolas e das caixas de crédito rural. (…) c) Pôr à disposição dos agricultores que disso careçam para aumentarem a sua cultura, gados, máqui- nas, especialmente motores e alfaias por meio de aluguer. PREÂMBULO 47. A 1.ª República (1910-1926) teve nesses 16 anos quase meia centena de governos. 48. Ao contrário do que acontecia com o corpo do exército inglês, cujos soldados e comandos eram regularmente substituídos, tal não acontecia com os nossos combatentes. O que sucedeu, logo em 9 de abril de 1918 (com o grande número de baixas na Batalha de La Lys), foi a consequência imediata disto.

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